sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Você veio ao mundo de carro ou de bicicleta?

Essa talvez tenha sido a pergunta que mais me intrigou no livro que acabei de ler... a escolha do veículo para percorrer a vida influencia diretamente no tamanho da bagagem que você quer levar. Eu, vim de caminhonete, mas tenho esperança em seguir minha jornada de bicicleta. Daquelas rosas, com cestinha de flores na frente. E só.

Só não. Carregar apenas flores é muito! Muito porque quem tem pouco, na verdade, carrega o essencial e, para isso, precisou deixar muito prescindível para trás. E, na nossa eterna dúvida do que realmente importa, acabamos não abrindo mão de nada. E como esse nada pesa!

As pessoas mais interessantes que conheço (e que faço questão de manter por perto para ver se aprendo por osmose) são aquelas que possuem um certo desapego, uma certeza de si e um olhar curioso sobre o que vem pela frente. É como se soubessem que o que está por vir é incontrolável e o que vivem não é seguro e, mesmo assim, conseguem dormir na primeira encostada no travesseiro. A receita? Elas simplesmente aceitam o caráter líquido que a vida tem. Essa fluidez que nos escapa entre os dedos e que nos esforçamos tanto  para eternizar nas horas, nos beijos, nas fotos. 

É preciso se envolver, mas é inevitável aprender a deixar ir. Afinal, não há filtros, rezas e choros que façam a paixão voltar, o intercâmbio ser para sempre e aquele dia nunca ter existido. Seguir em frente, diferente, é o curso natural e noites mal dormidas e fuçadas no Facebook não mudam nada. Essa é a beleza! Ao entender isso, aprendemos a lidar com as frustrações, conseguimos controlar as expectativas e aproveitamos mais os prazeres que aparecem.

Aceitar a efemeridade permanente da vida talvez seja o grande desafio para se ter uma mala leve. Quando se tem consciência de que estamos todos a passeio e não de mudança, precisamos de um bagageiro pequeno. E uma cesta de flores para oferecer aos que estão por chegar, é claro. 

"Ai então você vai se convencer
que se o mundo pesa
não vai ser de reza
que você vai viver"