domingo, 21 de outubro de 2012

O dia em que o amor foi embora

Depois de algum tempo ela finalmente percebeu o óbvio: tinha se tornado intolerante. Não sabia bem quando isso havia acontecido, quando as pequenas e insignificantes coisas da vida passaram a irritar, quando passou a não ter paciência com o defeito do outro, a ter dificuldade em aceitar as diferenças. E não estou falando de defeitos enormes nem de graaaaandes diferenças. Estou falando de pequenas, sutis e naturais diferenças. Diferenças essas que são a base das relações e da sociedade. 

O trânsito irrita, a falta de atenção do outro a tira do sério, até mesmo as decisões alheias lhe incomodam. E ela só percebeu isso indo para a faculdade, após um longo dia de trabalho. Fez o trajeto com a mão, quase que o tempo todo, na buzina. Na sua cabeça, xingava o motoqueiro, ao mesmo tempo em que tinha longas discussões com uma colega que não tinha entregado o trabalho no prazo e uma amiga que não percebia o fracasso do namoro. Tinha argumentos lógicos para tudo e repetia-os de maneira grosseira e imperativa. De repente, foi se sentindo cansada, angustiada, com uma vontade louca de chorar. 

Naquele momento percebeu a pessoa amarga em que estava se tornando e, por um segundo, todo o seu futuro lhe passou pela cabeça. Era previsível como tudo iria terminar. Sua intolerância com o outro estava lhe fazendo preferir ficar sozinha, as brigas com os amigos tinham se tornado frequentes e sua grosseria e falta de paciência com o outro era quase uma característica pessoal. 

Estacionou o carro e pensou. Pensou no momento exato em que tinha se tornado aquela pessoa quase desprezível. Logo ela, que sempre foi tão encantada pela vida, que se apaixonava por uma coisa nova a cada semana, que acreditava sempre nas pessoas. Analisou situações difíceis, grandes tombos e desilusões, mas a sua resposta não estava em um fato específico, mas sim em uma perda constante. Ela estava perdendo o amor. 

Não conseguia se lembrar a última vez que tinha se apaixonado de verdade por algo. E não estou falando de paixão por um homem ou por um possível namorado. O amor que ela perdeu foi o amor pelas pessoas em geral, pela vida. E sem amor, não tem como ser tolerante. Porque a paciência, o respeito e o cuidado são subprodutos desse sentimento. 

Ela se sentia tão vazia e inútil. Percebeu que não foi o amor que lhe abandonou, mas foi ela que o deixou partir. Quando sentiu a falta do amor, entendeu o por quê da sua intolerância consigo e com o mundo.

A falta de sentido na vida talvez não fosse uma coisa "da idade", sua falta de interesse nos homens, provavelmente, não era "uma fase", sua preguiça em fazer novos amigos, com certeza, não era "cansaço". Todas essas desculpas escondiam a verdade. Eram eufemismos convencionais para a falta de amor.

Ela não busca mais um emprego legal, um namorado encantador ou aquela roupa perfeita, porque sabe que nada será legal, encantador ou perfeito sem amor. Hoje ela está em busca do amor. Do amor nas pequenas e grandes coisas. Pois descobriu que é preciso amar para ser tolerante, mas acima de tudo, é preciso amar para viver bem!

E o amor não é rancoroso. Ele sabe perdoar quem o abandona e, o mais importante, está sempre pronto para voltar quando lhe chamam. Afinal, o amor é tolerante, é benevolente, é cuidadoso e necessário. Seja sempre bem-vindo, amor!

"O amor é bom, não quer o mal..."

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Encontros


Quem diz que a melhor fase da vida é a infância provavelmente não teve uma turma legal na faculdade. Digo isso sem medo de contestações ou represálias. E eu, graças a Deus, tive a sorte de desfrutar os melhores quatro anos da minha vida dentro de uma universidade (ou nos bares ao redor). E agora me questiono sobre como será o tempo que vem pela frente?

No último mês fui a dois reencontros bem distintos: um de 2 e outro de 28 anos de formados. A diferença não se dá só pelo tempo cronológico, mas, principalmente, pela intensidade e vontade de estarem juntos, de reviverem aqueles bons anos. Parece que, com o tempo e a inevitável distância, a necessidade de se reencontrar, na companhia daqueles que compartilharam as melhores experiências, se torna insuportável e urgente. Foi maravilhoso ver a alegria e o esforço de cada um para estar perto, mesmo que por um fim de semana. Depois de 28 anos, os caminhos são outros, os rostos mudaram e, por isso, talvez seja importante olhar para trás e ver onde tudo começou. Relembrar casos, rever amigos, reatar laços... tudo isso para que cada um se reencontre, entre tantas histórias, desejos e sonhos.

Talvez seja por isso que o meu encontro de dois anos pós-formatura tenha sido tão banal. Não no sentido pejorativo, mas no aspecto literal da palavra. Parecia que aquilo era algo normal, cotidiano e corriqueiro. Como se os encontros fossem ser eternos e similares. Não tinha tanta vontade, empolgação... faltou saudade!

Acho que ainda não temos a noção da sorte que tivemos e muito menos podemos imaginar o quanto as coisas podem (e vão) mudar. Talvez, quando estivermos lá na frente, casados, cansados e distantes, a lembrança dos encontros, antes tão recorrentes, seja o que nos motive a continuar. Talvez, também precisaremos voltar ao passado para reavaliar as nossas vidas, os sonhos que abrimos mão, os amigos que deixamos para trás. Talvez, neste momento, a presença nos encontros banais volte a fazer sentido e, tomara que todos nós ainda tenhamos a oportunidade de celebrar a nossa turma e a nossa história, do mesmo modo que vi minha mãe e seus amigos fazerem.

Que venha o meu encontro de 28 anos, mas que também não se percam os encontros diários!

"O sistema é mau, mas minha turma é legal..."