quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Os amores dela

Se lhe perguntam sobre o seu primeiro amor, Mariela responde segura: - O Couto! Afirma, com um certo orgulho, que o amou durante seis anos, desde o primeiro dia em que o viu se abaixando para pegar o estojo. "Este é o homem com quem vou me casar", pensava ela.

A verdade, é que sempre foi de longos amores ou, segundo amigos, de eternos desamores. Amava muito e acreditava no para sempre, sempre. Tinha certeza ser a cara metade de fulano mas, a realidade é que, quando amava, perdia a cara e se tornava metade. Tudo para ser cordial ao amor.

Depois do Couto, amou o Greg. Um desses amores que parecem durar a vida inteira (e que, talvez, dure). Em seguida veio o Diego, depois o James, que acabou virando amigo, uma forma que Mariela encontrou de não desperdiçar o amor. 

Aliás, desperdiçar amor é pecado para Mariela, que ama para sempre, sempre. Segue a filosofia de São Francisco de que "nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". E assim, segue sua vida. Transformando o amor em amizade, em necessidade, em saudade. 

Foi assim com o Alexandre, que se tornou refúgio, com o Bento, que hoje é amigo, e com o Roberto, que ainda nada virou. Com o Davi não, desse ela ainda quer o amor.

Dentre tantos amores, ou como diria seus amigos, eternos desamores, Mariela só não amou a ela. Pobre Mariela. 


Quadrilha



quarta-feira, 12 de junho de 2013

Dia dos Namorados

Hoje é dia dos namorados. Sim, escrevo assim, em letras minúsculas, pois, para mim, é um dia normal, apesar do escrito na minha agenda - de próprio punho - tentar me fazer crer no contrário. Não, este não é mais um dos milhares textos escritos sobre a "comercialização" do amor (como se isso fosse culpa da data) ou sobre a falsidade pública (mais digital, nesse caso) de alguns enamorados. Este é o desabafo sincero de alguém que há muito tempo não comemora , mas continua se deliciando com as declarações de amor alheias neste dia. Afinal, se tá difícil para mim, sem um amor, imagina se todo o mundo estivesse na pior comigo?

Acabei de ler na minha timeline uma amiga dizendo que acha lindas as mensagens barangas que pipocam por todos os lados no dia 12 de junho (sim, Renata, é de você que estou falando). Eu também acho! Acho que faz parte do ritual, como almoçar na casa da sogra no domingo ou assistir a filmes de comédia romântica no cinema. O amor é barango mesmo e é ligado a datas, a ocasiões especiais, a clichês dos mais clichês. A admiração, o carinho e o respeito são a base do amor, mas são as firulinhas que colorem esse enorme coração desenhado na última página do caderno.

Que as declarações melosas, as fotos intermináveis e os coraçõezinhos sobrevivam a essa nossa mania politicamente correta de abominarmos o que não é "diferente", cult ou descolado. Nada nos faz sentir mais diferentes do que o amor. E esse tem sim que ser dito. Seja em voz alta pelos mais desavergonhados, ao pé do ouvido pelos mais espertos ou aos quatro cantos do mundo pelos inseguros. Cada um sabe exatamente o porquê, como e para quem se declarar. Só cabe aos casais, amantes e ex(s) julgarem as declarações alheias. A nós, meros mortais solteiros, só nos resta admirar.

Por isso, mais que um desabafo, este pequeno texto é um manifesto a favor do amor. Seja ele de mentira, de verão, de fachada, de desespero, de verdade, de carência ou para toda a vida. 

Solteiras, vamos deixar o recalque de lado e parar de reclamar de cada mimimi que aparecer no Face, no Whatsapp, no outdoor, no Youtube ou na porta da escola. Afinal, enquanto houver amor no mundo, há chance para nós também. 

Um Feliz Dia dos Namorados a todos, porque, de uma forma ou de outra, somos todos amados, nem que seja pelas nossas mães.


Que os moteis estejam cheios de namorados e
os bares lotados de enamoráveis!

quinta-feira, 18 de abril de 2013

O buquê

Eu adoro casamentos. Acho lindo o rito, a importância do compromisso assumido, o choro do noivo, a entrada surpresa da noiva, a música, a festa, os comes e bebes. Gosto muito mesmo. Até o momento em que a noiva decide jogar o buquê... existe coisa mais machista, ultrapassada e humilhante que um monte de mulheres se estapeando por um arranjo de flores que, segundo boatos, pode salvá-las de uma vida infeliz por não terem um marido? Acho essa tradição o ó! 

O buquê, segundo o que consta no Wikipedia, surgiu na Grécia Antiga e era composto por ervas e alho para espantar o mau olhado. Durante a Idade Média, os arranjos foram ficando mais variados porque as noivas iam a pé até a igreja e, durante o percurso, as pessoas lhe davam flores como sinal de sorte e felicidade. Bonita a história, não? Até a burguesia surgir, se tornar pop e inventar que a felicidade feminina só poderia existir no casamento. O que era um costume delicado tornou-se um uma imposição costumeira que seguimos até hoje.   

Mas a grande questão é: por que, meu Deus? Por que nós, que queimamos sutiãs, lutamos pelo direito ao voto, ao trabalho e ao amor livre, continuamos correndo atrás do buquê como se ele fosse nossa única esperança de salvação? E o pior, por que nós, que hoje casamos com quem queremos, transamos quando queremos e vivemos como queremos, continuamos jogando buquês com aquele ar de piedade em relação àquelas pobres mortais que continuam fadadas ao fracasso? Porquê??? Não seria melhor, mais elegante e educado distribuir pequenos ramos a todos os convidados (homens, inclusive) em sinal de agradecimento e desejando que todos tenham direito à mesma felicidade? E não seria muito mais bonito ver as mulheres se esbaldando na pista de dança, felizes e solteiras, aproveitando a liberdade conquistada? 

Mais do que questionar a tradição, questiono o pensamento feminino. Será que esperamos o buquê por pura diversão ou realmente estamos esperando o casamento? 

Vocês eu não sei, mas eu estou em busca de amor, não de matrimônio, e acho que é muito mais eficaz me esforçar em me tornar uma pessoa melhor do que me esforçar por um buquê. Porque se as coisas não saírem como o esperado, estarei sempre na companhia de alguém interessante e não sentindo o cheiro constante das flores mortas.


É isso aí, meninas!







sexta-feira, 8 de março de 2013

Horóscopo

Desconheço um homem que não saia de casa sem ler as previsões para o seu signo. Nenhuma revista voltada para o público masculino traz a editoria em suas páginas. Horóscopo é coisa de mulher! Graças a Deus! E como boa representante do gênero que sou, confiro o meu horóscopo todo santo dia. Não satisfeita em ler as previsões para o meu signo, confiro o que os astros preveem para o meu ascendente e até mesmo para o meu animal no horóscopo chinês. É tanta informação, tantas certezas incertas que, no final, você nem se lembra direito o que era imprescindível.

Hoje acordei meio tristinha e resolvi dar uma olhada em como seria meu dia para decidir se levantava da cama ou pedia um atestado. Nas linhas do site só boas vibrações. Até a parte do amor, exatamente o que anda me atormentando. Foi aí que percebi que em todo horóscopo que se preze (nesse caso, desconsidero totalmente aqueles de jornal, escritos, na maioria das vezes, pelos próprios jornalistas), as previsões para o amor são sempre destacadas, provavelmente por serem o único aspecto que leva as mulheres a lerem aquela editoria. Porque ninguém em sã consciência, vai checar no horóscopo as previsões para seu signo antes de fechar um negócio milionário em que estava trabalhando há meses. Ninguém consulta as datas favoráveis para viagem antes de marcar as férias tão esperadas. O que nos faz ler horóscopo são as coisas que não dependem de nós.

Em um campo tão subjetivo e tão dependente de você como de outros, qualquer certeza se torna luz. Basta alguém dizer que vê um grande amor em nosso caminho para a gente esquecer do ex que nos deu um pé na bunda ou do paquera que nem sabe que existimos. Já sabíamos que nenhum desses tipos valiam a pena, mas só criamos coragem para seguir em frente depois de ouvir um ser, que não sabemos quem é e que muito menos conhece nossa história, afirmar que o amor está próximo só porque nascemos no dia tal, sob a lua minguante. Todas nossas amigas já tinham nos dito que era momento de deixar o passado para atrás. Elas que viram nosso sofrimento, que quiseram bater no babaca que nos machucou, que escutaram nossas lamúrias e pitangas. Elas que ressaltaram nossas qualidades, ensinaram dicas de paquera, apontaram nossos defeitos e apresentaram amigos. Elas nos conhecem muito melhor do que os astrólogos. Mas sabe porque não damos ouvidos a elas e decidimos mudar de vida após ler o horóscopo? Porque nossas amigas não podem nos dar certeza de nada (além de que ele é um babaca, é claro!). No amor, nada é matemático, nem garantido. Por isso, nenhum ser humano normal é capaz de prever o futuro. E é exatamente nessa lacuna que entram os astros, as cartomantes, os pais de santo e afins.

Não sou contra de jeito nenhum a esse tipo de S.O.S (aliás, adoro!), só tenho medo de me ver dependente dessas previsões mirabolantes. Tem muita gente que não recorre aos astros por medo do que eles podem falar de ruim. Porque, no fundo, o que todas nós buscamos é a certeza de que tudo vai melhorar, pois só vamos atrás de qualquer tipo de previsão quando não temos mais certeza de nada!!! 

Às vezes precisamos de um empurrãozinho de fé, irracional mesmo, para seguir em frente. De vez em quando é bom acreditar nessas ilusões brancas para dar um up. Afinal, ninguém pode negar o efeito placebo de boas previsões (basta o horóscopo dizer que no dia daquela super festa você tem chance de conhecer o homem da sua vida para que você se produza toda e fique muito mais aberta a conhecer novas pessoas). Mas é preciso tomar cuidado, porque quando estamos no fundo do poço, qualquer vagalume parece holofote e nem sempre o caminho certo vai estar tão bem sinalizado! O que vale mesmo é o que somos, as nossas experiências e, principalmente as nossas vontades. Mas, também não precisamos ignorar o horóscopo quando este vem recheado de coisas boas. Afinal, nada melhor do que sair de casa com a "certeza" de que o dia será maravilhoso.

"Afinal, quem tem a última palavra 
sobre as nossas vidas?"


quarta-feira, 6 de março de 2013

Caraíva

Se eu pudesse escolher onde nascer, escolheria um lugar perto da água. Não é a toa que todas as cidades começaram na beira de um rio. Água traz paz, serenidade, certeza de que as coisas passam, por mais que pareçam iguais. Talvez seja por isso, que eu tenha me apaixonado por Caraíva. Mas não só pelo rio, não só pelo mar... um pouco pelo encontro desses gigantes, mas, principalmente, pela simplicidade e intensidade desse pequeno povoado no sul da Bahia.

Uma vila de pescadores, cercada de água. Ruas de areia com casinhas coloridas. Bares na beira do rio e pousadas de frente para o mar. Não há como ser indiferente a Caraíva. Um cenário encantador, que de nada valeria se não existissem as pessoas que ali moram ou decidiram viver. Em uma cidade mágica conheci pessoas que são parte da magia (para não dizer que são os responsáveis pela mágica). Pessoas que fazem a diferença, que cruzaram o rio em busca de algo mais.

Muitos chegaram para ficar um dia e acabaram passando o resto da vida ali. Há quem foi com prazo de permanência mais longo que sempre acaba se estendendo. E há aqueles que queriam ficar, mas tiveram medo. Sim, medo! Porque a paz pode sufocar e o auto-conhecimento pode enlouquecer!

Em um tempo de loucuras temporais e externas, as doideras naturais e intimistas assustam! Parece um sonho, mas abrir mão da correria, da overdose de informação e das inúmeras possibilidades de tudo não é tão simples quanto parece, especialmente quando a experiência torna-se abstinência! Ficar só é um deleite doloroso!

E é essa contradição de palavras e sentimentos que define Caraíva. Alta, baixa. Louca e calma. Paz e tormento. Afinal, quem vai de encontro a Caraíva está atrás do próprio encontro. Mas auto-conhecimento assim, são poucos que dão conta! E quem aceita o desafio descruza o rio diferente, melhor, ciente de seus defeitos e vontades, consciente. 

Eu me acorvadei, por enquanto...


"Morrer de amor
Toda vez
Outra vez..."

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Uma releitura da releitura do banho

Ando com vontade de escrever, mas sem coragem de lidar com tudo o que pode vir. Por isso, hoje resolvi escrever por meio das palavras do outro. Uma seleção nada imparcial de trechos de um dos textos mais simples e gostosos que li nos últimos tempos.

E quem disse que isso não é escrever? Afinal, selecionar o que quero falar, mesmo que a partir do pensamento alheio, é um pouco de escrita também! 


Por isso, espero que vocês se deliciem com a minha versão do texto de Hilda Lucas, "O banho nosso de cada dia". (Publicado na revista Lola deste mês)


"Banho de vira-lata é aquele em que você entra quase de quatro, se arrastando, se sentindo destruída. Você liga o chuveiro e tudo o que você quer é se diluir, esvaziar. (...)


Algo sempre muda depois de um banho vira-lata e o mais frequente é você se dar conta de que aquele banho lhe fez bem. (...) O banho de vira-lata é aquele que você toma com 'seus botões de carne e osso', com seus fantasmas, com sua impotência, seu pânico. Nele você entra sem saídas, sem respostas e pode até sair sem soluções, mas sai estranhamente apaziguada, você sobreviveu ao banho e parte do desespero escoou pelos poros, pelo cano. No banho, a drenagem do cansaço, o conforto da limpeza, a certeza de que a vida segue lá fora, pois banho é reparação. (...)


Confie no poder do banho. Confie na função terapêutica da rotina. Enquanto você dá conta de se arrumar, se alimentar, trabalhar, dormir (mesmo que com uma ajudinha...) e tomar banho, significa que você está rolando os dados. (...) O banho nosso de cada dia é uma espécie de oração, de teimosia, de pacto. (...) [Porque] banho que é banho é muito mais que higiene. (...) Um milagre caseiro feito de água e sabão. Uma parada, um respiro, uma trégua. (...)


Tomar banho depois de uma situação extrema é o primeiro indício de que a vida voltará, de uma forma ou de outra, para os trilhos. O banho funciona como o primeiro sim que você diz à continuação do viver. (...)


No mundo feminino, banho que é banho tem um quê de nascimento de Vênus, algo mítico, inaugural, pois alguns banhos são fundadores, divisores de águas. São os banhos de estreia. Aquele que a gente toma depois da primeira menstruação, quando cheias de sustos e intuições vemos sangue misturar-se à água. O banho depois da primeira trepada... o corpo novo, doído, doido, desperto banhando-se de outro. (...) No banho, a crônica da vida.


Mas só quando você toma um banho day after, você compreende a força do banho. Banho day after é aquele do dia seguinte a uma ruptura, uma tragédia pessoal. Você sabe que depois daquilo nada será como antes. A vida não será a mesa, nem você será a mesma e, no entanto, você toma banho como se tudo continuasse como era. É incrível. (...) 


O santo banho, aquele que faz você voltar a funcionar, pois, no caos, o hábito é a regra de ouro para que a vida se recomponha. Nessas horas, tomar banho é comovente. E você tem certeza de que a vida é pura teimosia, que continua a despeito das perdas e dos reveses e no banho você está apenas afirmando: estou dentro, estou viva. (...)


Banho que é banho lava a alma." 



Banho é bom!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Novo ano

O ano de 2012 foi embora com um gostinho de não quero mais. No último dia do ano me sentei, como de costume, e comecei a pensar no que eu queria para o novo ano que se apresentava à minha frente. Lindo e em branco. Foi nesse momento que percebi, que o que queria mesmo era isso, um ano inteirinho de novas experiências, sem anotações antigas, continuação de páginas anteriores ou notas de rodapé. Nem o cabeçalho eu reaproveitei!

Acho que 2012 foi um ano blasé por que nada de novo aconteceu. O que vi foi uma repetição de pessoas e de situações, que se apresentaram exatamente da mesma forma que sempre foram. Sem nenhuma nova descoberta ou intenção. Sei que, provavelmente, eu também não me portei de maneira diferente e, por isso, contribui para a mesmice do ano (ah, essa terapia que não me deixa colocar a culpa no outro incondicionalmente). E é por isso que decidi fazer tudo diferente neste ano.

Não, nada de cortes de cabelo radicais ou planos de seis meses na academia. Nem mesmo metas ousadas de viajar sem destino ou beijar um ruivo (se bem, que esse segundo item está na minha lista de "coisas a fazer antes do 30"). O ano novo chegou sem promessas, sem pedidos específicos ou metas impossíveis. Dois mil e treze veio com um ar leve, com gostinho de pão fresco e cheiro de grama molhada. E para entrar, é preciso conquistar o direito. Porque todas as carteirinhas venceram e as permissões expiraram. É preciso renovar os sócios vitalícios, fazer novos exames adicionais e excluir os visitantes que não fazem bom uso do espaço.A lista de associados está em branco, porque é preciso abrir espaço para que novos frequentadores possam entrar. 

Para que meu ano seja realmente novo, coloquei pontos finais onde sempre só existiram reticências para, assim, dar espaço para que novos parágrafos sejam iniciados. Porque a continuação de 2012 é a repetição de uma história e de personagens. E é por isso que, no último dia do ano, resolvi deixar minha página em branco, para que todo novo traço tenha a oportunidade de ser surpreendente. E que assim seja!


"Ah, se eu tenho tanto a perder
Eu perco é o medo do que a sorte lê
Sabe o que quer
Sabe quem tem o que se quer"