domingo, 18 de novembro de 2012

Sessão de Terapia

Nenhuma dor é tão grande quanto à dor do autoconhecimento. (Essa frase poderia ser de um grande autor. Na verdade, talvez até seja, mas tive preguiça de procurar).

Faço terapia há mais de dez anos e sei bem do que estou falando. Reconhecer nossos erros, fracassos e fraquezas é mais dolorido que bater o dedinho do pé na quina da cama. Dói mais que um pé na bunda ou uma desilusão amorosa. Dói tanto porque você não tem em quem colocar a culpa. Toda a culpa é sua, toda e exclusivamente sua! Não há desculpas, circunstâncias ou pessoas que possam dividir a cruz com você. Saber quem somos implica em assumirmos toda a responsabilidade pelo o que fazemos ou deixamos de fazer. E isso dói!

Dói ver nossas imperfeições, nossa feiura. Dói descobrir nossas reais intenções, nossos desejos mais ocultos. Dói ver e rever nossos erros, nossos nós. Dói ter consciência e ciência. E a partir do momento em que sabemos o porquê, assumimos um compromisso de mudar o como.

Mas por mais doloroso que seja, nunca entendi muito bem as pessoas que dizem que não precisam de terapia. Acho que essa constatação vem seguida de um certo tom de superioridade, como se elas estivessem mostrando um atestado de não-loucura, uma prova de perfeição. Fazer terapia não é fácil, mas continuar na negação é mais difícil! A dor existe, mas vem com uma promessa de alívio. Porque só quem fez análise e conseguiu mudar uma atitude, por menor que seja, sabe o gosto bom que isso tem! 

E todo o processo só cabe a nós mesmos. Para quem assiste fica apenas o julgamento fácil, o questionamento egoísta, a sabedoria sem fundamento. Pois só quem se dispõe a se conhecer sabe a dificuldade que é se aceitar. 

Outro dia sonhei com minha ex-terapeuta. Ela precisava amputar o meu pé e não podia me dar anestesia. Minha mãe se deitava ao meu lado na maca para tentar dividir a dor comigo. No começo não senti nada. Olhava para minha perna e via meu osso exposto, roxo, cheio de sangue. Mas não havia dor, nem choro, nem grito. Até o momento em que ela começou a cortar meus dedos. A cada dedinho eu sentia uma dor insuportável! E ela ia cortando, um por um. De repente fui obrigada a deixar a sala de cirurgia. Saí e fui dar uma volta sem meus dois dedos do pé. Aquilo doía em mim de maneira real. Eu andava mancando e seguindo minha mãe pelas escadas. Quando voltei ao bloco cirúrgico fui informada que eu não poderia terminar a amputação naquele dia, pois os superiores tinham solicitado a sala para uma emergência. Voltei para casa, ainda com o pé, que estava parcialmente completo.

Nunca fui boa em análise de sonhos, mas, talvez, fazer terapia seja mesmo como uma amputação. Uma operação dolorosa, mas necessária. Você descobre onde tá o machucado, olha para a doença sob uma outra perspectiva e se arrisca a cortar os pedaços que podem te matar. Uma dor passageira que pode curar um sofrimento eterna. 

Por isso, não me julgue se meu "avanço" é lento ou se as minhas mudanças não te agradam. Pelo menos eu estou aqui, tentando amputar a minha dor. Não fugi nem desisti. Aceitei o processo, conheci partes minhas obscuras, me vi por dentro e me achei feia. Mas estou disposta a fazer os reparos necessários e sei que algumas coisas já mudaram. Mas também sei que ainda faltam outros três dedos para serem cortados!

Sessão de Terapia


domingo, 21 de outubro de 2012

O dia em que o amor foi embora

Depois de algum tempo ela finalmente percebeu o óbvio: tinha se tornado intolerante. Não sabia bem quando isso havia acontecido, quando as pequenas e insignificantes coisas da vida passaram a irritar, quando passou a não ter paciência com o defeito do outro, a ter dificuldade em aceitar as diferenças. E não estou falando de defeitos enormes nem de graaaaandes diferenças. Estou falando de pequenas, sutis e naturais diferenças. Diferenças essas que são a base das relações e da sociedade. 

O trânsito irrita, a falta de atenção do outro a tira do sério, até mesmo as decisões alheias lhe incomodam. E ela só percebeu isso indo para a faculdade, após um longo dia de trabalho. Fez o trajeto com a mão, quase que o tempo todo, na buzina. Na sua cabeça, xingava o motoqueiro, ao mesmo tempo em que tinha longas discussões com uma colega que não tinha entregado o trabalho no prazo e uma amiga que não percebia o fracasso do namoro. Tinha argumentos lógicos para tudo e repetia-os de maneira grosseira e imperativa. De repente, foi se sentindo cansada, angustiada, com uma vontade louca de chorar. 

Naquele momento percebeu a pessoa amarga em que estava se tornando e, por um segundo, todo o seu futuro lhe passou pela cabeça. Era previsível como tudo iria terminar. Sua intolerância com o outro estava lhe fazendo preferir ficar sozinha, as brigas com os amigos tinham se tornado frequentes e sua grosseria e falta de paciência com o outro era quase uma característica pessoal. 

Estacionou o carro e pensou. Pensou no momento exato em que tinha se tornado aquela pessoa quase desprezível. Logo ela, que sempre foi tão encantada pela vida, que se apaixonava por uma coisa nova a cada semana, que acreditava sempre nas pessoas. Analisou situações difíceis, grandes tombos e desilusões, mas a sua resposta não estava em um fato específico, mas sim em uma perda constante. Ela estava perdendo o amor. 

Não conseguia se lembrar a última vez que tinha se apaixonado de verdade por algo. E não estou falando de paixão por um homem ou por um possível namorado. O amor que ela perdeu foi o amor pelas pessoas em geral, pela vida. E sem amor, não tem como ser tolerante. Porque a paciência, o respeito e o cuidado são subprodutos desse sentimento. 

Ela se sentia tão vazia e inútil. Percebeu que não foi o amor que lhe abandonou, mas foi ela que o deixou partir. Quando sentiu a falta do amor, entendeu o por quê da sua intolerância consigo e com o mundo.

A falta de sentido na vida talvez não fosse uma coisa "da idade", sua falta de interesse nos homens, provavelmente, não era "uma fase", sua preguiça em fazer novos amigos, com certeza, não era "cansaço". Todas essas desculpas escondiam a verdade. Eram eufemismos convencionais para a falta de amor.

Ela não busca mais um emprego legal, um namorado encantador ou aquela roupa perfeita, porque sabe que nada será legal, encantador ou perfeito sem amor. Hoje ela está em busca do amor. Do amor nas pequenas e grandes coisas. Pois descobriu que é preciso amar para ser tolerante, mas acima de tudo, é preciso amar para viver bem!

E o amor não é rancoroso. Ele sabe perdoar quem o abandona e, o mais importante, está sempre pronto para voltar quando lhe chamam. Afinal, o amor é tolerante, é benevolente, é cuidadoso e necessário. Seja sempre bem-vindo, amor!

"O amor é bom, não quer o mal..."

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Encontros


Quem diz que a melhor fase da vida é a infância provavelmente não teve uma turma legal na faculdade. Digo isso sem medo de contestações ou represálias. E eu, graças a Deus, tive a sorte de desfrutar os melhores quatro anos da minha vida dentro de uma universidade (ou nos bares ao redor). E agora me questiono sobre como será o tempo que vem pela frente?

No último mês fui a dois reencontros bem distintos: um de 2 e outro de 28 anos de formados. A diferença não se dá só pelo tempo cronológico, mas, principalmente, pela intensidade e vontade de estarem juntos, de reviverem aqueles bons anos. Parece que, com o tempo e a inevitável distância, a necessidade de se reencontrar, na companhia daqueles que compartilharam as melhores experiências, se torna insuportável e urgente. Foi maravilhoso ver a alegria e o esforço de cada um para estar perto, mesmo que por um fim de semana. Depois de 28 anos, os caminhos são outros, os rostos mudaram e, por isso, talvez seja importante olhar para trás e ver onde tudo começou. Relembrar casos, rever amigos, reatar laços... tudo isso para que cada um se reencontre, entre tantas histórias, desejos e sonhos.

Talvez seja por isso que o meu encontro de dois anos pós-formatura tenha sido tão banal. Não no sentido pejorativo, mas no aspecto literal da palavra. Parecia que aquilo era algo normal, cotidiano e corriqueiro. Como se os encontros fossem ser eternos e similares. Não tinha tanta vontade, empolgação... faltou saudade!

Acho que ainda não temos a noção da sorte que tivemos e muito menos podemos imaginar o quanto as coisas podem (e vão) mudar. Talvez, quando estivermos lá na frente, casados, cansados e distantes, a lembrança dos encontros, antes tão recorrentes, seja o que nos motive a continuar. Talvez, também precisaremos voltar ao passado para reavaliar as nossas vidas, os sonhos que abrimos mão, os amigos que deixamos para trás. Talvez, neste momento, a presença nos encontros banais volte a fazer sentido e, tomara que todos nós ainda tenhamos a oportunidade de celebrar a nossa turma e a nossa história, do mesmo modo que vi minha mãe e seus amigos fazerem.

Que venha o meu encontro de 28 anos, mas que também não se percam os encontros diários!

"O sistema é mau, mas minha turma é legal..."

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Solteirice

Ser solteira é bom. Depois de longos namoros, me mantenho nesse estado civil há algum tempo. Claro que, durante esses anos, passei por várias fases, desde a busca incessante por um amor até a luta constante pelo não-amor. A verdade é que o bem-estar com o estado civil depende exclusivamente do bom estado do seu psicológico. Quando nada dá certo, a falta de alguém passa a ser um castigo. Mas, quando tudo vai bem, o amor parece ser só mais uma boa expectativa em relação ao futuro.

Esse modo de encarar as coisas talvez seja o grande fracasso da vida. Precisamos aprender a separar o joio do trigo. Uma frustração aqui não pode se alastrar para todas as áreas! Se não, fudeu! (Desculpa o palavreado). Se o emprego está ruim, a família está brigada e a conta bancária está no zero, chorar pela falta de um namorado não vai ajudar em nada! Porque não conseguimos manter a mesma serenidade que temos quando tudo está bem? Querer um namorado não pode se tornar missão de vida. Se não, passamos a aceitar qualquer coisa (literalmente) em troca da promessa de um compromisso.

Nós mulheres fomos programadas para amar (de preferência uma única vez na vida), despertar a paixão, casar e ter filhos. E, por isso, tenho escutado o alarme do meu relógio biológico. Não porque eu acho que está na hora ou porque cheguei em um momento de conquistas que me levam a esse passo, mas simplesmente porque todos a minha volta estão namorando e eu não (e nem sei se quero, neste momento). Nunca imaginei que isso seria motivo de cobrança, por isso comecei a me questionar sobre o assunto. Afinal, para mim, ser solteira não significa estar só, mas sim, solta. Solta do querer do outro, da custódia, dos desejos e anseios alheios. 

Acredito que estar solteira seja um momento sabático, quase divino, no qual temos tempo e oportunidade de nos conhecer, sem amarras ou obrigações. É o momento de nos recompor. Analisar os nossos defeitos, perceber onde erramos, o que buscamos, e, o mais importante, aprender a nos amar e nos respeitar. Porque, muitas vezes, passamos por cima dos nossos desejos e orgulho pelo "bem" de uma relação (usei as aspas porque, se uma relação precisa disso para ser boa, não pode fazer bem a ninguém!) e, nessa correira e emenda de namoros, nos esquecemos de perceber quem somos e deixamos de nos conhecer e de nos completar.

Mais do que ter liberdade de ir e vir, de dizer e de fazer, ser solteira é ter a oportunidade de aprender a ser inteira. Por isso, não acho que a solteirice deva ser um estado, mas sim uma permanência. Devemos nos manter solteiros mesmo quando casados. Afinal, ninguém quer alguém pela metade nem quer ter a obrigação de completar. Bom mesmo é ser inteiro e achar outro inteiro para somar!

Por isso, decidi desligar o meu alarme e não apenas ativar a função soneca. Porque se o relógio biológico é meu, ele tem que respeitar o meu tempo. E, graças a Deus, ainda tenho muito tempo pela frente. 

"Sou solto em qualquer lugar..."


domingo, 29 de julho de 2012

Regime


Se futebol é assunto de interação entre homens, regime é o papo básico entre as mulheres. Não existe mais aquela conversinha sobre o tempo para quebrar o gelo ou para introduzir um assunto na mesa entre semi-conhecidas. A função fática mais utilizada e com 100% de aproveitamento se chama dieta! Sentou na mesa com a nova namorada do amigo do peguete? Engata logo uma perguntinha sobre o novo método do Dr. Atkins ou comenta sobre os quilinhos extras (que você acabou de eliminar, mas nessa hora vale relembrá-los!) adquiridos no último feriado. Pronto! É só isso para vocês terem a sensação de que se encontraram no mundo e injustamente foram separadas no nascimento.

Essa "nova" situação é bem engraçada e um pouco preocupante. Futebol é assunto primário entre os meninos porque, TEORICAMENTE, todo homem gosta de futebol. Então quer dizer que toda mulher gosta de fazer regime???

Claro que não!!! Ninguém gosta de ser privada das coisas, de passar vontade ou de lutar contra seu próprio instinto (sim, porque existem gordinhas - e eu me encaixo nessa categoria - que são fofas porque amam comer, institivamente. Não é gula, ansiedade ou medo, é instinto de sobrevivência e de busca pelo prazer). Então, se fazer regime é ruim e, pelo visto, ineficaz (se funcionasse todas nós teríamos feito apenas uma dieta na vida e estaríamos desfilando por aí lindas e magras) porque todas nós continuamos a insistir nesse método (ou falar para os outros que continuamos insistindo, é claro)?

Sou a rainha da dieta de dois dias, como tudo no domingo para me "despedir" e na terça,cansada de sofrer, decido que mereço almoçar no Mc Donald's. Mas já levei alguns regimes a sério e vi resultado. E é nesse ponto que tudo desanda! Basta eu perceber que emagreci para eu começar a comer desesperadamente. Eu tenho que recompensar o tempo perdido, as coxinhas recusadas, as cervejas moderadas. E assim voltam os meus quilinhos perdidos. 

Fomos programadas a base de recompensas. Pensamos que se sofremos, seremos recompensados mais a frente, se executamos algo bem, também seremos recompensados. E isso inclui comida!!! Quem nunca ouviu: "se comer tudo vai ganhar sobremesa" ou "hoje é seu aniversário e você pode comer o maior hamburguer"? A comida é a maior recompensa dada pelos pais e, quando crescemos, continuamos nos recompensando dessa forma. Um dia ruim  é igual a um pote de sorvete, um dia lindo, também! Terminei meu namoro, MEREÇO batata frita. Finalmente fiquei com ele, preciso de uma barra de chocolate. Não! Tem alguma coisa errada!!!

Todas as ex-gordinhas (felizes) que conheço sofreram com mil dietas, pontos e proteínas, mas se encontraram definitivamente na terapia, e são categóricas quando o assunto é regime: não funciona! E olha que elas falam com propriedade! Fechar a boca emagrece? Sim. Mas fazer regime engorda? Sim. Porque ninguém consegue, nem merece, manter a boca fechada a vida inteira! Por isso, para elas a terapia foi fundamental, para que pudessem encontrar o equilíbrio e passassem a encarar a comida como uma aliada e não como uma inimiga mortal.

E toda gordinha feliz (sim, elas existem!!!) que eu conheço diz que simplesmente passou a se aceitar e aprendeu a valorizar e respeitar o seu corpo. Porque não adianta continuar lutando contra o biotipo ou ficar a vida inteira odiando o seu corpo. Aceitação é parte fundamental do processo! E gostar de si mesma pode ser mais atraente que uma barriga de tanquinho. 

Por isso, acredito que o corpo perfeito está na intercessão entre o equilíbrio e o bem-estar. E cabe a cada uma de nós descobrir onde se esconde esse espaço tantas vezes colorido nas aulas de matemática. Porque se a vida é recompensa, eu mereço me sentir bem todos os dias!

Mas vamos falar de coisa boa? Será que vai chover hoje...

Estava faltando uma referência deles!!!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Mãe

Eu não sei se quero ser mãe. Sempre que digo isso em voz alta vejo o susto nos olhos das pessoas, principalmente no das mulheres. Mas eu simplesmente não sei se quero, se dou conta de ser mãe. 

Quando eu era pequena tinha medo da dor do parto. Rezava para ter gêmeos, para sofrer de uma vez só e ter logo os dois filhos "padrão" (um casal, é claro, sendo o menino mais velho para proteger a irmã indefesa). Mas com o tempo fui descobrindo que a dor física era o que menos me assustava. Não sei se quero ser mãe porque tenho medo! Ser mãe envolve inúmeras qualidades que considero desumanas e tenho pavor de não possuí-las. Não sei como elas conseguem segurar vômito com as mãos, saber a febre só pela respiração, identificar vontades por meio do choro, perceber um coração partido pela voz, saber quando vai esfriar e vamos precisar de casaco.

Imagino que isso tudo venha junto com o amor incondicional. Aquele que existe antes mesmo do parto, que sobrevive apesar das brigas, que supera a distância e as decepções. Mas, e se eu for narcisista demais e não der conta de amar incondicionalmente outra pessoa? E se mesmo amando eu não aprender tudo? E o pior, e se eu amar demais e não der conta de deixar meu amor ir? Afinal, os filhos são do mundo! Como diz um texto que eu li, eles são empréstimos de Deus que, mais cedo ou mais tarde, vão seguir sozinhos. E cabe à mãe prepará-los para este momento, mesmo que ela mesma não esteja pronta.

Quando vejo jovens desesperadas porque engravidaram, fico desesperada também. Não porque as baladas vão acabar, porque os pais vão achar ruim ou porque alguns planos terão que ser adiados. Fico desesperada em pensar na responsabilidade de criar uma pessoa. Porque as crianças são como uma tábua lisa e a mãe é a primeira e a principal autora do texto que será escrito ali. Mostrar o certo e o errado, punir e acolher, manter a distância necessária e estar disponível são atitudes difíceis e que passam a ser diárias com a maternidade. 

É preciso ter muito peito para assumir este desafio, mesmo sabendo que em algum momento você será cobrada pelas falhas (apesar de tantos acertos), será trocada por festinhas, será tema permanente na terapia e será a responsável por milhares de traumas. Acho que só mesmo as mulheres podem arcar com tamanha dor e se sentirem realizadas todos os dias.

Sempre admirei as mulheres mais velhas pela capacidade de serem serenas, de guardarem o próprio sofrimento para acolher ao jovem desesperado, de darem conta do recado sem reclamar, de serem tão centradas e estarem sempre certas. Mas hoje sei que isso não é coisa de mulher mais velha, isso é coisa de mãe. 

Por isso deixo aqui a minha singela homenagem a essas tantas mulheres que têm a coragem de se tornar os seres mais encantados e reais que já conheci. E que as marinheiras de primeira viagem saibam da responsabilidade que carregam, porque no fim das contas são vocês que escrevem as primeiras linhas da vida dos filhos e a conclusão de toda uma sociedade. Obrigada e boa sorte!

Música para a minha mãe.
Obrigada por ter aceito o desafio
e continuar aceitando-o todos os dias.
Te amo!


quarta-feira, 27 de junho de 2012

Idade


Existem três coisas que, inevitavelmente, vêm com a idade: rugas, experiência e serenidade. A maioria das pessoas têm medo de envelhecer (principalmente as mulheres), mas eu, desde pequena, invejo esta última aquisição, a certa serenidade que o passar do tempo traz consigo. Lembro de em vários momentos desejar estar casada para acabar de vez com a ansiedade da paquera (e principalmente com a dor do rompimento), querer estar no final da minha carreira para cessar essa dúvida constante, sonhar com meus filhos crescidos para não ter que passar pela dor de vê-los sofrer. 


Mas a verdade é que o tempo não tira de nós nenhum sofrimento, ele só te ensina a conviver melhor com eles. Hoje mesmo (sei que não sou nenhuma vovózinha), olho para trás e acho graça de algumas situações em que achei que era o fim do mundo, em que sofri como se não houvesse amanhã. E tenho certeza que minha mãe tem vontade de rir quando chego em casa trisitinha por alguma coisa que ela considera bobagem. Porque o tempo tem isso de bom, traz o aprendizado, a visão a longo prazo, a postura crítica em relação às coisas e às pessoas. E é isto que nos faz aproveitar a paquera sem tanta pressa, sofrer com o fim do namoro sem tanto drama, aceitar os riscos de um emprego novo sem tanta ansiedade e, principalmente, se aceitar sem tanta cobrança (como eu quero chegar neste estágio!!!). Não é que o sofrimento era menor antes, você é que está mais preparada hoje.


Sem contar que com o passar do tempo não aceitamos certas coisas nem estamos dispostas a passar por determinadas situações. Não me imagino mais acatando as imposições de namorados, correndo atrás de um paquera que me trata mal, rastejando pelo perdão de uma amiga ou querendo morrer porque falaram mal de mim. Se já sofri com isso tudo, porque vou passar por isso de novo? A cada dia prezo mais o meu bem estar.


Mas não adianta alertar as amigas, dar conselhos para o irmão ou tentar mostrar a "realidade" para a prima. O tempo é pessoal e intransferível. Cada um só aprende quando vive. E é exatamente por isso que não escutamos os conselhos das nossas mães e sempre corremos o risco de ouvir um "eu te avisei". Elas sabem, mas precisamos viver para sabermos também. 


E assim vamos seguindo, cada vez mais devagar, mas cada dia mais próximas ao rumo certo. Porque se ao envelhecer vamos perdendo a pele lisa, a rapidez nos movimentos e a cor dos cabelos, ganhamos o equilíbrio e a serenidade. E acho esta uma troca mais do que justa!


"Nem vem tirar meu riso frouxo
com algum conselho
que hoje eu passei batom vermelho"

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Madrid


Durante muito tempo eu encarava viajar como uma obrigação. Tinha preguiça da arrumação, do percurso, da falta de conforto... até o momento em que passei a escolher os meus destinos, a decidir o que queria ver, a satisfazer as minhas vontades. Consegui atribuir prazer a partir da falta de obrigação e acabei descobrindo a minha grande paixão! No começo de maio coloquei este sentimento a prova: decidi viajar sozinha por alguns dias na Europa. Ou a paixão desandava ou virava amor.


A primeira cidade que visitei foi Madrid. Já conhecia a capital, mas foi o destino com voo mais barato que encontrei (foi muito barato mesmo!!! Só consegui graças a esse site que tem sempre ótimas promoções). A entrada na Espanha foi um pouco tensa por causa da "barreira" sem sentido aos brasileiros, mas depois de perguntas atravessadas e respostas simpáticas passei pela alfândega sem muito problema!


Já tinha ido a Madrid com a minha mãe há exatamente um ano, mas a experiência da solidão (consentida e aproveitada) torna tudo diferente.


Considero Madrid a São Paulo espanhola (já falei disso em outro texto), mas mais charmosa e interiorana. Cheguei exausta, só querendo comer e dormir, mas ao sair do metrô me rendi à inevitável vontade de bater perna pela cidade. Deixei a mala no Hostel (meio sujinho, mas bem animado e muito bem localizado) e saí sem rumo, querendo ver e principalmente ouvir. Evitei os caminhos conhecidos, os bares frequentados, as indicações no mapa e evitei, especialmente, as rotas normais para se chegar aos pontos turísticos. Afinal, eu já tinha sido turista ali e agora queria ser surpreendida. E se tem uma coisa que Madrid sabe ser é surpreendente.


Cheguei em um feriado e por isso as ruas estavam cheias de gente bebendo, fumando e "tapeando". Saindo da Plaza Mayor entrei, sem saber, em uma ruazinha linda em que a aglomeração de pessoas era enorme. Acabei conhecendo o melhor lugar de Madrid - a Calle de Cava Baja, uma das principais do bairro La Latina. Cada portinha te oferece um lugar para beliscar, conversar e para beber. Porque na Espanha o álcool faz parte da vida das pessoas, sem culpa, preconceito ou distinção. (Até o Mc Donald's vende cerveja acompanhando suas promoções). Não me arrisquei a entrar em nenhum bar e sinto que tenho que voltar para me redimir desse arrependimento que carrego.


Continuei o passeio e inevitavelmente passei por todos os pontos turísticos. Fui ao Mercado de San Miguel, comi bocadillo de jamón, tirei foto com o Urso e o Medronheiro, bebi Estrela, entrei no Palácio, visitei igrejas... mas a diferença é que eu não tinha pressa. Muito pelo contrário! Quando se está sozinha existe a necessidade de se aproveitar ao máximo o tempo, pois não teremos companhia para o jantar ou com quem conversar na volta para a casa. E assim, com a necessidade de preencher as horas fui me encantando por Madrid.


A cidade é bege, mas tem vida! Em Madrid, o antigo se funde ao novo de maneira natural e harmônica. A cultura e a tradição se fazem presentes, mas também abrem espaço para outras culturas e novas tradições. A capital espanhola, para mim, é um reflexo lindo e bem humorado de toda a Espanha: uma mistura muito bem separada. Madrid tem a capacidade de ser várias dentro de um só e isso permite que você transite por lugares distintos sem nunca se esquecer de onde está.


Por fim sentei na Puerta del Sol e fiquei observando as excursões escolares, os amigos bebendo, os mendigos na rua, as mulheres fazendo compras... a cidade fluindo. Porque é esse sentimento que tenho em relação à cidade, a sensação de movimento, de uma eterna dança em conjunto, muito bem ensaiada e articulada. E Madrid, muito educada, te convida a todo momento a entrar na pista e dançar em sua companhia. E eu dancei!

Dance!

terça-feira, 19 de junho de 2012

Casualidades

Vivemos em um mundo que nos obriga a sermos causais. Casuais na relações, nos sentimentos, no sexo e até mesmo nos valores. E essa é uma "obrigação" moderna que pesa, pelo menos para mim. Eu não sei ser casual nem mesmo na maneira de me vestir. Eu penso muito, analiso cada detalhe, me exponho, sinto todas as dores e os amores do mundo e, por isso, não posso ser casual. Não é que eu não queira, simplesmente vai contra aquilo que eu sou.


E quando falo isso para algumas pessoas, sofro um preconceito imenso. Parece que toda mulher que se julga independente, moderninha e bem informada tem a obrigação de trazer consigo o dom da casualidade (sim, considero isso um dom, uma característica quase de nascença).


Eu não dou conta de fazer sexo casual, de ter relacionamentos abertos, de não me importar. Acho M-A-R-A-V-I-L-H-O-S-O quem consegue! Mas para mim é difícil não esperar um telefonema, não torcer para que ele se encante, não imaginar um futuro. Sim, porque se cogitei ir para cama com alguém, é porque algo ali me atraiu, me fez querer conhecer mais e ficar mais perto. Tenho tanto para oferecer que não consigo ser pela metade.


Eu consigo enxergar todos os benefícios do sexo casual! Aliás, existem várias listas na internet enumerando as qualidades, as regras de etiqueta e os cuidados necessários para não se envolver. Entendo os motivos, as aspirações, as vontades e vantagens. Acho que se encaixa em vários momentos da vida e que pode ser tão fantástico quanto sexo com amor!!! Só não consigo aceitá-lo como uma obrigação, uma via de regra. Afinal, se nós mulheres conquistamos o direito de fazer sexo casual não podemos abrir mão da opção de não fazer. 


Conheço várias mulheres que se dizem casuais mas que no fundo queriam ser atemporais. E também conheço mulheres que são eternas e morrem de vontade de se tornarem efêmeras. Acho que a escolha do que queremos "ser" ou fazer é nossa e não deve ser encarada como uma imposição, um encargo ou uma tendência. Hoje temos o privilégio de podermos decidir com quem vamos nos envolver, transar, casar e até mesmo ter filhos. Usemos este direito para atender aos nossos desejos e não às expectativas dos outros.


Admiro muito a casualidade conquistada e jamais julguei alguém por isso. Acho que temos a obrigação de experimentar, de saber o que queremos, como somos e o que gostamos. Por isso, não me julguem por eu ser assim, acasual, eu simplesmente sou e não possuo defeito de fábrica!

Adoro esses momentos "Papo Calcinha"



quarta-feira, 13 de junho de 2012

Homem perfeito

Dizem que começamos a montar o nosso homem ideal a partir do primeiro contato que temos com o sexo oposto. O primeiro afago do pai, a preocupação do tio, a índole e os valores dos primos são fundamentais nessa construção. E depois vêm os namoradinhos da escola, o professor de matemática, o primeiro amor, o melhor amigo... e assim vamos criando o nosso homem perfeito, aquele que possui o melhor de todos aqueles que passaram pelas nossas vidas.


O meu, esse eu sei bem como é! Nem alto demais, nem muito baixo. Um corpo mais magro e fino. Leal. Olhos esverdeados que parecem ver a minha alma. Um nariz grande e um sorriso hipnotizador. Um homem gentil, do tipo que se preocupa com o seu corte na mão e com seu frio no pé. Mas que também sabe se impôr quando eu insisto em passar dos limites. Educado. Um companheiro para as horas difíceis e para os programas mais bobos. Uma pessoa que me instigue a ser sempre mais, que me inspire a me superar. Um cara que adore tomar cerveja, sentar em buteco e falar bobagem. Inteligente. Que goste das minhas amigas, de futebol e de comida japonesa. Um homem que saiba me dizer quando parar, mas que também entenda quando eu precisar continuar. Justo. Que goste das minhas qualidades e aceite os meus defeitos. Alguém que não guarde rancor, nem mágoa; que vibre com as minhas vitórias e me faça sentir parte das dele. Divertido. Que faça questão de se manter perto enquanto dorme, mesmo que seja só com os pés, para mostrar que está ali. Simpático. Uma pessoa que eu admire e que me admire de volta e que, com isso, faça com que eu me ame cada dia mais.


Se esse homem possui defeitos? É claro! Eu, imperfeita como sou, preciso de outro imperfeito para me fazer companhia. Mas eu sei bem com quais desvios consigo me comprometer e acredito que esta lista seja até mais importante do que a seleção das qualidades. Porque eu posso ser flexível quanto a altura, cor dos olhos e  preferências culinárias, mas sei que não dou conta de aceitar falta de educação, mentira, traição e pão durice. Por isso, é importante termos sempre em mente o que não queremos em um homem, porque temos o dom de nos iludir quando estamos apaixonadas, acreditando que as pessoas mudam ou que vamos aprender a lidar com aquilo. Eu até acredito nessa proeza, mas também acredito em índole, em criação e em personalidade e essas três coisinhas dificultam bastante a mudança e a aceitação. 


Por isso, devemos pensar bem no que somos, o que queremos e para onde estamos indo. Porque fingir que acreditou na mentirinha de um peguete, aceitar a pão durice do paquera que mora em outro país ou ceder aos encantos de um galinha é normal! Mas passar anos sendo enganada, aceitar casar com um mentiroso só porque chegou aos 30 ou fingir que não liga em ser traída é perigoso! Temos que saber o que queremos de nós e do outro.


Acrescentar novas qualidades ao nosso homem perfeito é simples, mas precisamos também manter atualizada a nossa lista de vetos! O mais importante é aceitarmos que somos todos imperfeitos, mas devemos sempre buscar os imperfeitos bem-intencionados.

Eles também têm a suas mulheres "perfeitas"



segunda-feira, 11 de junho de 2012

O fim

"Passou, querida, passou. O problema é o que ficou..." (Martha Medeiros - Fora de Mim)

Não conheço dor maior que a dor do fim de um relacionamento. Tenho certeza que existe, mas ainda (graças a Deus) não perdi um ente querido, tive filhos ou pedra nos rins. Por isso, as piores lembranças que tenho são dos meus "términos". É uma dor física, que parece dominar o corpo e a mente, que parece não ter fim nem razão. Porque ninguém, por mais que já tenha terminado dez namoros, consegue sofrer menos por saber que aquilo, um dia, vai passar. Você pode até controlar o desespero, mas a tristeza...

Porque nessas horas, ser racional não funciona. Você pode deixar de procurá-lo porque sabe que não vale mais a pena, que ele não te quer mais ou que está com outra, mas a saudade não irá embora por causa disto. Você pode tentar se distrair, ler um livro, sair com as amigas, mas ao final da noite (ou pior, ao acordar), você vai se lembrar de tudo e aquele pensamento de seguir em frente pode parecer sem sentido. Porque por mais que o fim seja claro e acertado por ambas as partes, o luto é incontrolável e necessário.

E não existe antídoto. O único que conheço é se tornar imune à paixão. Porém não acredito que funcione e que seja indolor. Porque o tamanho da tristeza está diretamente ligado à intensidade do amor. E este talvez seja o preço a ser pago por tamanha felicidade. 


O problema é que não conseguimos ser justos na balança. Nos apegamos tanto ao fim, à dor e à desilusão que não nos lembramos dos almoços, das conversas, dos beijos e passeios. E assim passamos a sofrer em vão. Afinal, tristeza sem moral da história é como um mártir sem causa. Se não podemos escolher por quem vamos sofrer (afinal não escolhemos por quem nos apaixonamos) podemos decidir como e por quê.


É necessário buscar um sentido na dor. O sofrimento existe para nos lembrar o quanto fomos felizes, para nos ensinar onde erramos e para conseguirmos terminar um ciclo, virar a página. E não adianta jurar que nunca mais vai chorar por homem nenhum! Pois, não chorar pode significar nunca mais sentir frio na barriga, ter as pernas bambas, ganhar o dia com uma mensagem, se sentir nas nuvens e sem pressa de voltar. Porque se não conheço dor maior que a do fim, também desconheço alegria maior que a do começo.

Minha avó diz que um grande amor se cura com
outro maior ainda. A minha receita é mais simples:
amigas, tempo e vodca!





domingo, 3 de junho de 2012

Conselhos de domingo

Sempre gostei de frases de impacto, de drama, de dar conselhos reveladores, de imaginar a cena do fim do meu namoro (com direito a trilha sonora e efeitos na imagem). Minha mãe diz que sou assim desde pequena (drama queen), mas isso tudo, no fundo, é uma ilusão desesperada de me sentir importante, de fazer diferença na vida das pessoas.


Nessa minha onda de "blogueira", tenho lido muitos textos que me inspiram, me dão inveja e me fazem querer melhorar, sempre. Mas um, particularmente, me deu vontade de ter filhos. Não porque amo crianças nem porque sonho em ser mãe desde sempre (até porque não é verdade). Mas pela possibilidade de repassar minha experiência de uma maneira tão madura e bonita (sim, porque não há nada mais tocante e dramático do que conselho de mãe).


Mas como a vida não é simples e arrumar namorado está difícil (porque arrumar filho até acho que é fácil), decidi resolver meu problema maternal por aqui mesmo. 


Se algum dia tivesse que deixar registrado tudo aquilo que considero importante para um filho, minha lista se resumiria em apenas seis itens:


1- ame a si próprio como a sua mãe te ama;
2 - sempre se coloque no lugar do outro, pois ninguém sabe em qual posição você estará amanhã;
3 - respeite o seu corpo, porque ele é seu único bem garantido e intransferível;
4 - guarde um pouco dos detalhes da sua vida, é preciso ter o que mostrar à medida que as pessoas se aproximam;
5 - sempre tente perdoar, mas nunca se magoe por essa obrigação;
6 - a vida é sua e somente você irá arcar com as suas decisões. Por isso, pense bem antes de levantar uma bandeira, a voz ou a roupa.


Agora é a minha vez de ler meus próprios conselhos para ver se consigo colocar em prática pelo menos um!

Sempre choro quando vejo este vídeo!

PS: Não sei se soou dramático demais, mas confesso que ouvi a voz do Pedro Bial enquanto escrevia. 




sexta-feira, 1 de junho de 2012

Vontades

Sempre ouvi dizer que vontade dá e passa. Eu até concordo com o ditado, o problema é quando ela demora a passar. 


Porque existem vontades que são facilmente distraídas - é tão simples transformar a vontade de ir malhar em um filme com pipoca ou enganar a vontade de sorvete com um copo de yogoberry. E existem aquelas vontades que são facilmente realizáveis (aliás, tenho uma amiga que diz que devemos aproveitar esta facilidade e sempre realizar esses pequenos desejos), como comer uma panela de brigadeiro, estourar plástico bolha, espremer uma pasta de dente novinha (desejo prontamente realizado por essa minha amiga!). O que pesa são as vontades inoportunas, impróprias e impertinentes. 


Quem nunca ficou se coçando para ligar para o ex, mesmo sabendo que isso jogaria por água a baixo todo o seu discurso de "nunca mais me liga", "nunca mais vou te procurar", "essa é a última vez que ficamos" (como somos dramáticas)? E quem nunca teve vontade de comer uma barra de chocolate inteirinha logo no primeiro dia de dieta? E o pior é que nesses casos a vontade não passa com um telefonema para a amiga ou com um copo de suco. Estes desejos são fortes e impetuosos, parecem que só vão desaparecer quando forem atendidos. Mas a verdade, é que nenhuma vontade é maior que a sua própria. 


E é assim que tenho aprendido a controlar meus impulsos suicidas (sim, porque ligar para um ex que não presta, comprar a loja inteira ou "soltar sem querer" para aquela menina chata que ela é corna podem acabar com a sua vida!). Toda vez que eu tenho uma vontade inapropriada, eu penso em uma vontade maior. Quando tenho um impulso de ligar para ele, penso no que eu quero para mim, na vontade que eu tenho de encontrar alguém que me faça mais feliz; no momento em que estou abrindo um pacote de Passatempo, foco na minha vontade de ser magra e gostosa; na hora que penso em "soltar" uma maldadezinha gratuita... ainda não descobri nenhuma vontade maior.


Acho que esse é o caminho para tentar controlar os impulso: pensar mais a longo prazo (vale lembrar que este método fica seriamente comprometido com a ingestão de álcool). Mas se você não resistiu e acabou caindo em tentação, não se desespere! Como li em um jornalzinho dos Vigilantes do Peso, "é preciso aprender a recomeçar depois de um tropeço".

ASSISTAM!!!



quarta-feira, 30 de maio de 2012

Desistência!

Como todos já devem ter percebido, eu não tenho a menor ideia do que quero fazer na minha vida profissional. Sempre fui boa aluna, estudei em uma das melhores universidades, fiz excelentes estágios e hoje, a sensação que eu tenho, é que fiz tudo isso guiada pela opinião e vivência das outras pessoas. E agora, que eu não tenho mais como continuar superando as expectativas, me encontro em um enorme limbo entre o que os outros queriam que eu fosse e o que eu quero ser.


Quis poucas coisas na vida com muita vontade, muita dedicação e entrega. E, ironicamente, falhei em quase todas estas missões (a maioria ligadas a homens, confesso!). Mas como nunca tive muita vontade própria quanto à minha profissão, não tive muita dificuldade em alcançar as coisas. Pelo visto querer demais pode atrapalhar.


O problema é que agora surgiu uma vontade louca de trabalhar com o que gosto e, por isso, tudo aquilo que eu fiz até hoje caiu por chão. Nunca fui infeliz trabalhando, mas foram poucas as vezes em que tive brilho nos olhos, paixão pela coisa. Gosto de fazer parte do que estou desenvolvendo, de me envolver no processo, de me sentir atuante e importante. E acho que agora é o momento de tentar alcançar isto, de dar a cara, de me arriscar. É a hora de pagar para ver, já que não tenho nada que me prenda e não tenho que sustentar ninguém (nem a mim mesma).


Mas para isso, preciso saber o que quero ser. E isso tem se mostrado uma tarefa muito difícil. Como saber o que eu quero se eu nunca fui encatada pelo que fiz? Por isso comecei a fazer uma lista do que eu não quero ser e percebi que abrir mão dos projetos, por mais que eles nunca tenham me pertencido, é muito difícil. Porque estes sonhos pertencem a pessoas próximas, que eu amo e que querem meu bem. E eu não quero que elas se sintam frustradas, mas eu também não posso continuar me frustrando. 


Uma amiga me disse que se nada der certo ela compra um quiosque e se muda para a praia. A ideia me anima, mas ainda não consigo me desvencilhar da imagem que os outros projetaram para mim: uma mulher independente, bem sucedida, que ocupa um posto de liderança e é exemplo no que faz. E não acho que é só porque qualquer mudança no script frustraria outras pessoas, mas também porque essa ideia me acompanha desde sempre e modificar sua própria auto-imagem é difícil, demorado e doloroso.


Por isso estou indo aos poucos, contando para mim mesma o que eu acho que eu não quero ser (posso mudar de opinião antes mesmo de terminar o texto). Aos poucos vou abrindo as amarras que me prendem a uma vida que não sei se quero seguir. Não quero ser trainee, como a maioria dos meus amigos querem; não quero trabalhar em uma grande empresa, como meus pais sempre quiseram; não quero fazer mestrado ou doutorado, como meus avós sonharam. 


Não sei o quero exatamente, mas sei o que estou buscando e isso já faz toda a diferença! Desculpa se não consegui ser o que esperavam de mim, mas fiquem felizes e tranquilos porque eu estou tentando descobrir o que EU espero e quero de mim!

"Era Ana Paula, agora é Natasha...."


terça-feira, 29 de maio de 2012

Ansiedade

Saber que eu sou ansiosa é fácil, basta reparar na minha perna inquieta (até mesmo quando estou em pé), na minha fala rápida e atropelada, nas minhas mãos sempre em movimento. O difícil é acabar com a ansiedade.

Sou assim desde pequena. Sempre tinha insônia na noite anterior a uma excursão (e dor de barriga pela manha), chorava e sofria antes de ir para a escola, na segunda-feira, por medo de ter sido excluída de algum programa no fim de semana, morria de enjoo e tinha tremeliques antes da festa mais importante do ano (o aniversário da Natália Nicole, que sempre era o mais bombante!).  

Hoje, depois de dez anos de terapia, eu consigo (às vezes) controlar minha ansiedade. Já aprendi que não adianta eu perder o sono tentando solucionar problemas (que na maioria das vezes não são tão grandes assim), porque eles não serão resolvidos a uma hora da manhã. Aprendi também que algumas coisas não dependem de mim e, por isso, não podem me afetar de tal modo que eu não consiga sair do banheiro (o primeiro dia em um trabalho novo é estressante para todo mundo e ter dor de barriga não muda este fato!). Eu entendo que a apresentação de um super trabalho pode causar ansiedade e que comer a casa inteira não vai me garantir uma nota satisfatória. Eu só não entendo como eu, mesmo sabendo disso tudo, ainda fico me martirizando (sim, porque todos os sintomas de ansiedade me causam um terrível desconforto físico e mental) por não saber o que eu quero do meu futuro.

Racionalmente eu compreendo tudo e sei exatamente o que não adianta, o que só faz mal e não traz nenhum benefício para as situações que me causam ansiedade. O problema é que emocionalmente eu ainda não sei como controlar meus ataques. Já tentei florais, terapia (o que me ajudou muito), dança, religião, livros de auto-ajuda e hoje me encontro na homeopatia, mas admito que nada me proporcionou 100% de cura.

Sei que a melhora só depende de mim, do controle da minha mente sobre o meu corpo (e é exatamente isto que me frustra, saber que eu estou falhando). Se bem que hoje é minha mente quem controla meu corpo. Onde já se viu ficar nervosa com uma entrevista de emprego e acordar às 4h30 com uma vontade louca de vomitar? Isso é culpa da mente, que por sua insegurança, tá prejudicando (para não falar a palavra feia que caberia perfeitamente aqui) o corpo. 

Então, acredito, que a cura da minha ansiedade está na sintonia entre mente e corpo. Mas como já disse em outros posts, equilíbrio é uma coisa muito distante de mim, o que prejudica bastante o processo. Por isso, continuo testando todos os métodos, fazendo todas as mandingas e rezando, para que um dia meu corpo e minha mente se tornem amigos, porque inseparáveis eles já são.

"As encrencas de verdade da sua vida,
tendem a vir de coisas que nunca
passaram pela sua cabeça preocupada."






quinta-feira, 24 de maio de 2012

Indiferença

Se tem uma coisa que me incomoda é o fato de algumas pessoas não gostarem de mim. Sei que nem Jesus agradou a todos, mas saber que eu não sou querida simplesmente me mata! Imagino que ninguém gosta de ser odiada, mas admiro aquelas pessoas que simplesmente não ligam, são indiferentes à situação. Eu juro que tento não pensar, não remoer e não analisar minuciosamente o motivo da não afeição, mas quando dou por mim já estou tendo DRs com o espelho ou mirabolando formas de ser amada. Sim, como se não bastasse o meu sofrimento, quando percebo o desdém do outro faço de tudo para agradar.


E sabe o que é o pior? Normalmente as pessoas que não gostam de mim não deveriam gostar mesmo ou não fazem diferença na minha vida. A nova namorada do meu ex vai me odiar por eu existir, independentemente do que eu faça. Aquela menina que eu excluí do meu grupinho do colégio, aos 12 anos de idade, nunca mais vai ir com a minha cara (e com toda razão). Que diferença faz na minha vida se a prima de segundo grau da amiga da minha amiga tem ciúme de mim e me trata mal? Nenhuma! Mas eu ainda não consigo aceitar isso tranquilamente.


Talvez a minha necessidade de ser amada 100% do tempo venha da minha carência paterna ou da minha "síndrome de filha única", não sei, só sei que isso tem me deixado exausta e me rendido boas (?) doenças psicossomáticas.


Mas existem os desprezos que machucam e que lutamos contra não só para manter a popularidade, mas porque vêm de pessoas que são importantes, que admiramos ou que temos extrema consideração. Não é fácil aceitar a traição de uma amiga, uma fofoca maldosa, o desrespeito de um ex-namorado. Quando a falta de amor vem de perto perdemos o chão, nos sentimos pequenos e passamos a conviver com um nó na garganta. São nestas situações que as conversas são necessárias e, às vezes, o perdão também. Porque reconquistar um amor perdido pode ser mais importante do que se sentir amada por um monte de alheios. 


Mas é preciso saber destinguir quem vale a pena. Muitas vezes chegamos no ponto em que mais uma discussão sobre o mesmo assunto, pela milésima vez, não vai fazer diferença; em que chorar, sentir dor de estômago e não conseguir dormir não vai mudar a atitude e o sentimento do outro. Algumas pessoas passam a ter uma visão sobre você que se torna imutável e que vai guiar tudo aquilo que elas pensam, independentemente do que você é, do que faz ou do que sente. Nesses casos, é preciso abrir mão, seguir em frente, levar o SEU amor ao próximo.


Uma vez uma pessoa me disse que a indiferença é o pior sentimento que alguém pode ter em relação a você. Eu discordo, acho que a falta de amor próprio é o pior sentimento que qualquer pessoa pode ter em relação a si mesmo. Deixar de se amar para ser aceita ou querida não faz o menor sentido! Por isso, acredito que chegou o momento de eu aprender a ser indiferente para que assim eu possa receber o melhor amor do mundo, o meu.

Não mata não!



quarta-feira, 23 de maio de 2012

Mitos modernos

Os mitos sempre estiveram presentes na vida das pessoas. Segundo a Wikipédia (minha maior fonte de conhecimento), mito é uma narrativa de caráter simbólico, relacionada a uma cultura, que procura explicar o mundo. Mas a definição que realmente influencia a minha vida e me interessa é a versão "pejorativa" (claaaaro!): "crenças comuns, consideradas sem fundamento objetivo ou científico, e vistas apenas como histórias de um universo puramente maravilhoso". O problema é que eu não consigo aceitar a essência do mito. Para mim, eles são reais, atingíveis e comprovados!


Sempre ouvi dizer que as loiras chamam mais atenção e conquistam todos os homens. Fiz luzes, abandonei os cachos (não queria correr o risco de errar em nenhum quesito) e me apaixonei por um homem que adora cabelos escuros e com ondas. Me matriculei em cursos culinários e de dança de salão porque, teoricamente, são atividades ótimas para se encontrar o par perfeito. Continuo solteira! Sem contar os outros tantos mitos que tomam conta das nossas vidas e nos obrigam a fazer sacrifícios em busca da imagem/sensação/vida perfeita. (Quem nunca se desdobrou - literalmente - para fazer um 69 inesquecível e saiu com a sensação de que nada foi legal - nem fazer nem receber? Sim, vamos aceitar, o 69 delicioso é mais um mito da vida moderna!).


Apesar de irreais, penso que os mitos servem para nos inspirar. Ainda não quero desistir da ideia de que posso trabalhar com paixão, fazendo o que gosto, e ser bem sucedida (o Luciano Huck não faz isso?). E também não abro mão de acreditar na minha alma gêmea, no amor para a vida toda (e realmente desejo que ele já esteja a caminho!). Sim, existem alguns mitos que podem fazer bem e que espero, do fundo do meu coração, que não sejam apenas histórias de um universo fictício. Mas acho que até fazendo o que gosto, o trabalho será duro. E tenho certeza que o meu amor não vai durar a vida inteira sem esforço, sem consentimento, sem ser regado e cultivado. 


Acho que o mais importante é absorvemos o que os mitos têm de melhor: a crença em um mundo perfeito. Sem deixar que isso nos sufoque ou nos guie cegamente. Cabe a nós transportarmos essa ideia para o nosso dia a dia, para as nossas ações e desejos. Lembrando sempre que o nosso mundo é real, mas a essência pode ser mágica!

Um pouquinho de encanto para o nosso dia...








segunda-feira, 21 de maio de 2012

Retorno

Quem já fez intercâmbio sabe como é bom, mas também sabe o quanto é doloroso voltar. Pois o que você deixou para trás (e sentiu tanta saudade) não continua igual e você não é mais o mesmo! Acho que se adaptar a uma outra cultura e a uma nova vida, é mais fácil do que ter que se readaptar à sua própria e antiga realidade. Porque a sensação que se tem após o fim da viagem é a de não pertencimento. Você não faz parte da vida que deixou e, ao mesmo tempo, a vida nova que teve não te pertence mais. E é muito ruim não ter um lugar no mundo!


Sofri bastante quando voltei (hoje completa nove meses e dez dias que meu intercâmbio chegou ao fim). Sentia um vazio no peito, uma saudade irremediável, uma vontade louca de viver aquilo tudo de novo e para sempre. Ouvi um milhão de conselhos sobre como curar a "depressão pós-intercâmbio", mas a verdade é que eu não queria superar. Viver a falta me fazia lembrar o que tinha passado e, de uma forma bem sadomasoquista, me levava de volta ao ano mais feliz da minha vida. E esse sentimento me estagnou. Parei no tempo, na vontade, na busca... 


Decidi voltar, retornar para seguir em frente. E digo que foi a melhor decisão. Rever o Porto me permitiu me reencontrar. Foi mágico ver meu apartamento, beber no meu bar preferido, encontrar os amigos e perceber que, mesmo tendo sido um parênteses, a minha vida ali foi real! Real porque o sentimento continuou existindo mesmo depois de tanto tempo, mesmo estando tão longe. 


Os amigos que fiz e com quem compartilhei um pedaço tão importante da minha vida continuam ali e permanecem ocupando um lugar cativo. Afinal, só quem viveu junto um intercâmbio sabe a intensidade do sentimento criado, a importância da experiência vivida. É muito difícil tentar explicar o que aconteceu para quem não estava lá, envolvido naquela mistura de sentimentos, naquele eterno tríade saudade-felicidade-solidão. 


Mas voltar em outra situação nos faz perceber que o intercâmbio foi tão bom porque tinha data marcada, porque sabia-se que não era para sempre. Essa efemeridade da coisa nos permite nos permitir mais, afinal, vai acabar e não podemos levar arrependimentos, amarguras, tristezas. É por isso que fazemos coisas inusitadas, que perdoamos mais facilmente, que usamos roupas "descoladas", que amamos muito, que vivemos.


Uma vez o professor de um grande amigo o aconselhou ao voltar para o Brasil com o mesmo coração aberto com que foi para Portugal. Acho este o conselho mais sábio e o pensamento mais verdadeiro. Pois voltei para aquele lugar em que fui mais feliz e percebi que tudo que eu vivi foi graças a mim, ao meu modo de ver a vida, à minha decisão de fazer aquela experiência ser fantástica. O meu intercâmbio sempre esteve dentro de mim. Sendo assim, posso ser feliz em qualquer lugar! Afinal, estamos todos vivendo em um grande intercâmbio, com tempo determinado, com muitas possibilidades e com uma urgência de ser vivido.

Albergue Espanhol - Para relembrar o meu Erasmus!




quinta-feira, 10 de maio de 2012

Troca de camisa

Sempre tive um pouco de dificuldade em abrir mão das coisas e, principalmente, das pessoas. Para mim é muito difícil aceitar que aquela amiga está seguindo um caminho diferente, que o meu namoro já não é mais tão bom, que aquele sonho não combina mais comigo. Sou muito intensa em tudo o que vivo e, por isso, visto a camisa mesmo! Mas tanta dedicação dificulta bastante quando preciso mudar de modelito.


Já perdi muito tempo sofrendo com a possibilidade de deixar alguém ir e, já perdi mais tempo ainda, correndo atrás de coisas que não faziam mais sentindo, simplesmente porque não queria aceitar o fim. E o fim faz parte da vida. Aliás, é uma das poucas certezas que temos. Nada é para sempre e nada é imutável. Tudo está em movimento, em transição e precisamos aceitar isso.


Um namoro não é o mesmo depois de dois anos (na verdade, nem depois de dois meses). A sua amiga de infância não é a mesma depois de passar pela faculdade (nem você é igual), o sonho de conhecer o Leonardo DiCaprio não faz mais tanto sentido hoje em dia. Precisamos aceitar o fim para podermos viver um novo começo.


Tenho a impressão de que sofro tanto ao me desapegar, pois parece que o fim vai apagar o que vivi. Mas a verdade é que o término não anula nada, não deleta o que aconteceu. Apenas muda o script do que nunca existiu.


Uma vez um amigo me disse que temos tanto medo de abrir mão das pessoas e das relações porque junto com elas abrimos mão dos nossos sonhos, da nossa projeção de vida. Como é difícil aceitar que vocês não vão casar. Que seus três filhos imaginários (mas com nomes definidos) podem ter um pai diferente. Que a sua despedida de solteira possa ser com outras amigas, que a cidade em que você vai envelhecer não é mesma em que você acabou de comprar uma casa.


Abrir mão das projeções do futuro é dolorido, mas dói muito mais sacrificar o presente em busca do idealizado. Às vezes precisamos nos reinventar, criar novos planos, deixar as pessoas irem para que possam querer voltar. Afinal, nem tudo está definido! E digo, com conhecimento de causa, que por mais amor que se tenha pela camisa, precisamos doá-la quando esta não serve mais. E podemos nos surpreender ao encontrar outra, de outro tamanho, cor, modelo, que caia como uma luva, que fique perfeita... pelo menos até a próxima lavagem.

"Parece que eu peguei um vestido muito especial,
um Armani, e emprestei para uma amiga.
Aí essa amiga vestiu o vestido e ele ficou muito mais
bonito nela do que em mim"








domingo, 6 de maio de 2012

São Paulo

Como comentei em um post anterior, esse mês fui para São Paulo para fazer uma dinâmica. Como não fui aprovada, tive uma tarde livre para vasculhar a maior cidade da América Latina.


Nunca fui muito fã de São Paulo, admito. Minha família é toda de Juiz de Fora e por isso sempre fui partidária do Rio de Janeiro, mesmo dos Rios de Janeiros do mundo - sempre faço esta referência entre as grandes cidades de um país. Barcelona é o Rio da Espanha, enquanto Madrid é São Paulo. Porto é carioca e Lisboa é paulista. Existem um milhão de Rios e São Paulos espalhadas pelo mundo. Mas admito que sempre que vou à capital paulista, me surpreendo positivamente.


Quando pensava em São Paulo, pensava em trânsito, prédios, japoneses e trabalho. Sim, isso tudo existe (e muito) na cidade, mas não podemos reduzi-la a isto! São Paulo também é cultura, é divertimento, é progresso e é um montão de pequenas cidades dentro de uma só. E foi ao perceber isto que entendi o que significa ser paulista. 


Esta não foi a minha primeira vez na cidade. Como tenho uma super amiga morando lá, já fui visitá-la umas três vezes. Na primeira me dediquei a comprar roupas e ir para a balada. Na segunda vez fiz compras e conheci os pontos turísticos (museus, parques e monumentos). Na terceira fui fazer uma dinâmica e saí arrasada. Esta última visita foi a única em que passei a maior parte do tempo sozinha e pude ver a cidade pelos meus próprios olhos.


Saí da dinâmica decidida a ir no Museu da Língua Portuguesa (legal demais!!!) para ver a exposição "Jorge, Amado e Universal". Mas no meio do caminho lembrei da minha contenção de gastos (ser desempregada tem dessas coisas) e decidi ir conhecer o Bairro Liberdade. A primeira vez em que eu ouvi falar sobre a região foi em uma história da Turma da Mônica e, desde então, morria de vontade de ver como era. O bairro é super bonitinho, os postes são temáticos, tem um milhão de japoneses nas ruas e há lojas por todos os lados. Não cheguei a entrar em nenhuma com muito afinco para evitar me apaixonar por qualquer coisa e ter que sair frustrada ou mais falida. Mas achei engraçado a intercessão cultural que ocorre ali. Na praça onde fica a estação de metrô tinha um quiosque vendendo cachorro-quente, um artista cantando samba e um japa vendendo origami. E o mais engraçado é que todo mundo se sentia a vontade, todos estavam "em casa".


Fui embora com destino ao meu lugar preferido da cidade: a Livraria Cultura do Conjunto Nacional. Sempre gostei de entrar em livrarias e ficar horas folheando os livros (li o "Doce Veneno do Escorpião" assim, entre uma visita e outra), vendo as novidades, fazendo a minha lista dos "Livros para ler antes de morrer". Mas a Cultura é especial! O espaço é fantástico, todo bem pensado e super convidativo. A vontade é de morar lá, principalmente por causa dos pufes que te aconchegam durante a leitura. Mas graças à minha independência e falta de conhecimento, parei umas quatro estações antes da Consolação. Até tentei ir à pé, mas minha sandália e minha roupa de executiva estavam me matando de dor e de calor. Acabei pegando um táxi e indo para casa. Fui conversando com o taxista durante todo o percurso. O assunto foi o habitual quando se é turista: suas percepções sobre a visita. Falei o que eu tinha visto, o que me chamou a atenção, o que me chocou, fiz comparações com minha cidade natal, contei do meu fracasso na dinâmica, falei bem do Rio de Janeiro... deu tempo até de contar minha história de vida, afinal, eram 18h da tarde e o trânsito estava condizente com a fama que tem. 


Quando cheguei na porta do prédio o taxista me disse o valor da corrida. Um valor bem abaixo do que mostrava o taxímetro. Perguntei se estava certo e ele me disse que sim. Falou que aquilo era uma compensação pelo meu dia ruim e uma garantia de que eu levaria uma boa recordação da cidade. "Não deu para chegar até o seu lugar favorito, mas pelo menos você consegui chegar bem em casa". Mal sabe ele que naquele momento eu conheci o meu pedaço predileto de São Paulo, os paulistas!

"É que quando eu cheguei por aqui eu nada entendi
Da dura poesia concreta de tuas esquinas
Da deselegância discreta de tuas meninas"


quarta-feira, 2 de maio de 2012

Ao redor

Sempre pensei que o mundo girava em torno de mim. Bastava eu me apaixonar para que todas as frases do mundo (até mesmo de propaganda de creme dental) fizessem o maior sentido e, ao mesmo tempo, era só eu levar um pé na bunda para que as rádios só tocassem músicas que tinham a ver com "a gente". Sei que isso é um pouco síndrome de filha única, mas ainda acho que as coisas não acontecem por acaso, elas aparecem por um motivo muito especial, e sempre na hora certa (por mais que tenhamos que esperar, esperar...). Lembro uma vez, em Portugal, que o ralo do chuveiro entupiu. Ninguém sabia como resolver e não achávamos telefone de encanador. Resolvemos ir almoçar, mesmo com o problema pendente. No meio do caminho encontramos um milhão de anúncios de desentupidoras pregados nos muros vizinhos. Eles sempre estiveram ali, mas nunca prestamos atenção porque não tínhamos precisado ainda daquele serviço.

Acredito que isso sempre acontece, até mesmo com coisas mais sérias (se bem, que a situação do chuveiro estava beeeeem séria!). As soluções e oportunidades estão por aí, na nossa cara, mas é preciso abrir os olhos para percebê-las. E o ideal seria ver os anúncios antes de precisar desesperadamente deles.

Para quê esperar ser demitida para fazer aquele curso tão importante? Não faz sentido ter que engordar para começar a cuidar do corpo, muito menos esperar ter uma dor de dente para procurar o dentista. Precisamos estar sempre atentos ao que está ao nosso redor, porque grandes mudanças não dão aviso prévio, nem grandes oportunidades são alardeadas com fogos de artifício. Precisamos ter a sensibilidade para percebê-las e, principalmente, devemos ter o coração aberto para recebê-las!

A ideia que vai  mudar a sua vida profissional pode ser algo que você faz todo dia, o homem "perfeito" pode ser o vizinho que sempre te cumprimenta, o melhor exercício físico pode ser a caminhada com o cachorro, a melhor dieta pode ser se apaixonar. Ao invés de manter seu olhar sempre à frente, comece a olhar para os lados, até mesmo para trás, pois coisas maravilhosas se "escondem" bem perto da gente!

"Então me diz qual é a graça
De já saber o fim da estrada
Quando se parte rumo ao nada"