quarta-feira, 4 de julho de 2012

Mãe

Eu não sei se quero ser mãe. Sempre que digo isso em voz alta vejo o susto nos olhos das pessoas, principalmente no das mulheres. Mas eu simplesmente não sei se quero, se dou conta de ser mãe. 

Quando eu era pequena tinha medo da dor do parto. Rezava para ter gêmeos, para sofrer de uma vez só e ter logo os dois filhos "padrão" (um casal, é claro, sendo o menino mais velho para proteger a irmã indefesa). Mas com o tempo fui descobrindo que a dor física era o que menos me assustava. Não sei se quero ser mãe porque tenho medo! Ser mãe envolve inúmeras qualidades que considero desumanas e tenho pavor de não possuí-las. Não sei como elas conseguem segurar vômito com as mãos, saber a febre só pela respiração, identificar vontades por meio do choro, perceber um coração partido pela voz, saber quando vai esfriar e vamos precisar de casaco.

Imagino que isso tudo venha junto com o amor incondicional. Aquele que existe antes mesmo do parto, que sobrevive apesar das brigas, que supera a distância e as decepções. Mas, e se eu for narcisista demais e não der conta de amar incondicionalmente outra pessoa? E se mesmo amando eu não aprender tudo? E o pior, e se eu amar demais e não der conta de deixar meu amor ir? Afinal, os filhos são do mundo! Como diz um texto que eu li, eles são empréstimos de Deus que, mais cedo ou mais tarde, vão seguir sozinhos. E cabe à mãe prepará-los para este momento, mesmo que ela mesma não esteja pronta.

Quando vejo jovens desesperadas porque engravidaram, fico desesperada também. Não porque as baladas vão acabar, porque os pais vão achar ruim ou porque alguns planos terão que ser adiados. Fico desesperada em pensar na responsabilidade de criar uma pessoa. Porque as crianças são como uma tábua lisa e a mãe é a primeira e a principal autora do texto que será escrito ali. Mostrar o certo e o errado, punir e acolher, manter a distância necessária e estar disponível são atitudes difíceis e que passam a ser diárias com a maternidade. 

É preciso ter muito peito para assumir este desafio, mesmo sabendo que em algum momento você será cobrada pelas falhas (apesar de tantos acertos), será trocada por festinhas, será tema permanente na terapia e será a responsável por milhares de traumas. Acho que só mesmo as mulheres podem arcar com tamanha dor e se sentirem realizadas todos os dias.

Sempre admirei as mulheres mais velhas pela capacidade de serem serenas, de guardarem o próprio sofrimento para acolher ao jovem desesperado, de darem conta do recado sem reclamar, de serem tão centradas e estarem sempre certas. Mas hoje sei que isso não é coisa de mulher mais velha, isso é coisa de mãe. 

Por isso deixo aqui a minha singela homenagem a essas tantas mulheres que têm a coragem de se tornar os seres mais encantados e reais que já conheci. E que as marinheiras de primeira viagem saibam da responsabilidade que carregam, porque no fim das contas são vocês que escrevem as primeiras linhas da vida dos filhos e a conclusão de toda uma sociedade. Obrigada e boa sorte!

Música para a minha mãe.
Obrigada por ter aceito o desafio
e continuar aceitando-o todos os dias.
Te amo!


6 comentários:

  1. Muito sábio, pertinente, traçando em palavras *normais* essa loucura do ser mãe.
    Você nada sabe de mim mas peço licença para compartilhar com meus contatos Mães e Não Mães essa sua doideira de falar sobre algo tão estranho que é ser mãe.

    ResponderExcluir
  2. Fico feliz q vc tenha gostado e é um prazer poder "ser compartilhada" entra tantas pessoas!

    ResponderExcluir
  3. Dani, me redimi com a ausência em seu blog. Li e gostei tanto que vou ler todos! Parabens e continue nos encantando, Mari

    ResponderExcluir
  4. Partilho do mesmo medo, sempre que penso em ser mãe, penso nos desafios que isso envolve... não se sinta só!! E, às vezes não é uma questao de querer ou não quere, mas de arriscar... e se for para ser ..será.
    Beijos e não pare, seus textos são otimos.
    Daniela

    ResponderExcluir
  5. Muito bem retratada as angustias de todos nós, pais e mães, em seu texto. A incerteza de podermos enfrentar todos esses desafios sempre nos atormentará; porem, ter a consciência deles, acredito ser a única prova que podemos nos arriscar.

    ResponderExcluir
  6. Engraçado Dany, me vi nesse seu texto: quando pequena tinha medo do parto, depois o receio de imaginar se eu seria uma boa mãe, se abriria mão de tantas coisas na minha vida para criar uma criança, enfim a maternidade não me fazia falta e até hoje eu acho que poderia passar tranquilamente pela vida sem ter filhos e sem sofrer por isso. Engravidei, casada, porém sem planejar e vi todas as inseguranças indo embora quando segurei meu primeiro filho ainda na sala de parto!
    Nó, mulheres, por puro instinto conseguimos sim cuidar de nossos bebês: já acordei do nada no meio da noite e senti vontade de ir ao quarto da minha filha (coisa que nunca faço)e quando coloquei a mão nela vi que estava ardendo de febre, eu nunca tinha pegado um recém-nascido no colo, mas com os meus fiz questão de dar até o primeiro banho, morria de nojo (e ainda morro das secreções orgânicas, risos), mas nunca senti nojo de trocar as fraldas ou segurar a testinha dos meus filhos quando eles estavam vomitando, sou super dorminhoca, mas se um dos meus filhos se mexem de uma maneira diferente na cama acordo no mesmo instante. Enfim, um amor que nós não escolhemos, somos escolhidas!
    Hoje sei que sou uma pessoa melhor depois que fui mãe! Amo demais meus pequenos, mas continuo com o mesmo pensamento: se Deus não tivesse me abençoado com a maternidade eu tenho certeza que não seria uma pessoa infeliz.
    Mas, te digo uma coisa: Depois de ser mãe sou mais intensa em tudo, mais completa e mais humana.
    Bjos.

    ResponderExcluir