domingo, 29 de julho de 2012

Regime


Se futebol é assunto de interação entre homens, regime é o papo básico entre as mulheres. Não existe mais aquela conversinha sobre o tempo para quebrar o gelo ou para introduzir um assunto na mesa entre semi-conhecidas. A função fática mais utilizada e com 100% de aproveitamento se chama dieta! Sentou na mesa com a nova namorada do amigo do peguete? Engata logo uma perguntinha sobre o novo método do Dr. Atkins ou comenta sobre os quilinhos extras (que você acabou de eliminar, mas nessa hora vale relembrá-los!) adquiridos no último feriado. Pronto! É só isso para vocês terem a sensação de que se encontraram no mundo e injustamente foram separadas no nascimento.

Essa "nova" situação é bem engraçada e um pouco preocupante. Futebol é assunto primário entre os meninos porque, TEORICAMENTE, todo homem gosta de futebol. Então quer dizer que toda mulher gosta de fazer regime???

Claro que não!!! Ninguém gosta de ser privada das coisas, de passar vontade ou de lutar contra seu próprio instinto (sim, porque existem gordinhas - e eu me encaixo nessa categoria - que são fofas porque amam comer, institivamente. Não é gula, ansiedade ou medo, é instinto de sobrevivência e de busca pelo prazer). Então, se fazer regime é ruim e, pelo visto, ineficaz (se funcionasse todas nós teríamos feito apenas uma dieta na vida e estaríamos desfilando por aí lindas e magras) porque todas nós continuamos a insistir nesse método (ou falar para os outros que continuamos insistindo, é claro)?

Sou a rainha da dieta de dois dias, como tudo no domingo para me "despedir" e na terça,cansada de sofrer, decido que mereço almoçar no Mc Donald's. Mas já levei alguns regimes a sério e vi resultado. E é nesse ponto que tudo desanda! Basta eu perceber que emagreci para eu começar a comer desesperadamente. Eu tenho que recompensar o tempo perdido, as coxinhas recusadas, as cervejas moderadas. E assim voltam os meus quilinhos perdidos. 

Fomos programadas a base de recompensas. Pensamos que se sofremos, seremos recompensados mais a frente, se executamos algo bem, também seremos recompensados. E isso inclui comida!!! Quem nunca ouviu: "se comer tudo vai ganhar sobremesa" ou "hoje é seu aniversário e você pode comer o maior hamburguer"? A comida é a maior recompensa dada pelos pais e, quando crescemos, continuamos nos recompensando dessa forma. Um dia ruim  é igual a um pote de sorvete, um dia lindo, também! Terminei meu namoro, MEREÇO batata frita. Finalmente fiquei com ele, preciso de uma barra de chocolate. Não! Tem alguma coisa errada!!!

Todas as ex-gordinhas (felizes) que conheço sofreram com mil dietas, pontos e proteínas, mas se encontraram definitivamente na terapia, e são categóricas quando o assunto é regime: não funciona! E olha que elas falam com propriedade! Fechar a boca emagrece? Sim. Mas fazer regime engorda? Sim. Porque ninguém consegue, nem merece, manter a boca fechada a vida inteira! Por isso, para elas a terapia foi fundamental, para que pudessem encontrar o equilíbrio e passassem a encarar a comida como uma aliada e não como uma inimiga mortal.

E toda gordinha feliz (sim, elas existem!!!) que eu conheço diz que simplesmente passou a se aceitar e aprendeu a valorizar e respeitar o seu corpo. Porque não adianta continuar lutando contra o biotipo ou ficar a vida inteira odiando o seu corpo. Aceitação é parte fundamental do processo! E gostar de si mesma pode ser mais atraente que uma barriga de tanquinho. 

Por isso, acredito que o corpo perfeito está na intercessão entre o equilíbrio e o bem-estar. E cabe a cada uma de nós descobrir onde se esconde esse espaço tantas vezes colorido nas aulas de matemática. Porque se a vida é recompensa, eu mereço me sentir bem todos os dias!

Mas vamos falar de coisa boa? Será que vai chover hoje...

Estava faltando uma referência deles!!!

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Mãe

Eu não sei se quero ser mãe. Sempre que digo isso em voz alta vejo o susto nos olhos das pessoas, principalmente no das mulheres. Mas eu simplesmente não sei se quero, se dou conta de ser mãe. 

Quando eu era pequena tinha medo da dor do parto. Rezava para ter gêmeos, para sofrer de uma vez só e ter logo os dois filhos "padrão" (um casal, é claro, sendo o menino mais velho para proteger a irmã indefesa). Mas com o tempo fui descobrindo que a dor física era o que menos me assustava. Não sei se quero ser mãe porque tenho medo! Ser mãe envolve inúmeras qualidades que considero desumanas e tenho pavor de não possuí-las. Não sei como elas conseguem segurar vômito com as mãos, saber a febre só pela respiração, identificar vontades por meio do choro, perceber um coração partido pela voz, saber quando vai esfriar e vamos precisar de casaco.

Imagino que isso tudo venha junto com o amor incondicional. Aquele que existe antes mesmo do parto, que sobrevive apesar das brigas, que supera a distância e as decepções. Mas, e se eu for narcisista demais e não der conta de amar incondicionalmente outra pessoa? E se mesmo amando eu não aprender tudo? E o pior, e se eu amar demais e não der conta de deixar meu amor ir? Afinal, os filhos são do mundo! Como diz um texto que eu li, eles são empréstimos de Deus que, mais cedo ou mais tarde, vão seguir sozinhos. E cabe à mãe prepará-los para este momento, mesmo que ela mesma não esteja pronta.

Quando vejo jovens desesperadas porque engravidaram, fico desesperada também. Não porque as baladas vão acabar, porque os pais vão achar ruim ou porque alguns planos terão que ser adiados. Fico desesperada em pensar na responsabilidade de criar uma pessoa. Porque as crianças são como uma tábua lisa e a mãe é a primeira e a principal autora do texto que será escrito ali. Mostrar o certo e o errado, punir e acolher, manter a distância necessária e estar disponível são atitudes difíceis e que passam a ser diárias com a maternidade. 

É preciso ter muito peito para assumir este desafio, mesmo sabendo que em algum momento você será cobrada pelas falhas (apesar de tantos acertos), será trocada por festinhas, será tema permanente na terapia e será a responsável por milhares de traumas. Acho que só mesmo as mulheres podem arcar com tamanha dor e se sentirem realizadas todos os dias.

Sempre admirei as mulheres mais velhas pela capacidade de serem serenas, de guardarem o próprio sofrimento para acolher ao jovem desesperado, de darem conta do recado sem reclamar, de serem tão centradas e estarem sempre certas. Mas hoje sei que isso não é coisa de mulher mais velha, isso é coisa de mãe. 

Por isso deixo aqui a minha singela homenagem a essas tantas mulheres que têm a coragem de se tornar os seres mais encantados e reais que já conheci. E que as marinheiras de primeira viagem saibam da responsabilidade que carregam, porque no fim das contas são vocês que escrevem as primeiras linhas da vida dos filhos e a conclusão de toda uma sociedade. Obrigada e boa sorte!

Música para a minha mãe.
Obrigada por ter aceito o desafio
e continuar aceitando-o todos os dias.
Te amo!