sexta-feira, 8 de março de 2013

Horóscopo

Desconheço um homem que não saia de casa sem ler as previsões para o seu signo. Nenhuma revista voltada para o público masculino traz a editoria em suas páginas. Horóscopo é coisa de mulher! Graças a Deus! E como boa representante do gênero que sou, confiro o meu horóscopo todo santo dia. Não satisfeita em ler as previsões para o meu signo, confiro o que os astros preveem para o meu ascendente e até mesmo para o meu animal no horóscopo chinês. É tanta informação, tantas certezas incertas que, no final, você nem se lembra direito o que era imprescindível.

Hoje acordei meio tristinha e resolvi dar uma olhada em como seria meu dia para decidir se levantava da cama ou pedia um atestado. Nas linhas do site só boas vibrações. Até a parte do amor, exatamente o que anda me atormentando. Foi aí que percebi que em todo horóscopo que se preze (nesse caso, desconsidero totalmente aqueles de jornal, escritos, na maioria das vezes, pelos próprios jornalistas), as previsões para o amor são sempre destacadas, provavelmente por serem o único aspecto que leva as mulheres a lerem aquela editoria. Porque ninguém em sã consciência, vai checar no horóscopo as previsões para seu signo antes de fechar um negócio milionário em que estava trabalhando há meses. Ninguém consulta as datas favoráveis para viagem antes de marcar as férias tão esperadas. O que nos faz ler horóscopo são as coisas que não dependem de nós.

Em um campo tão subjetivo e tão dependente de você como de outros, qualquer certeza se torna luz. Basta alguém dizer que vê um grande amor em nosso caminho para a gente esquecer do ex que nos deu um pé na bunda ou do paquera que nem sabe que existimos. Já sabíamos que nenhum desses tipos valiam a pena, mas só criamos coragem para seguir em frente depois de ouvir um ser, que não sabemos quem é e que muito menos conhece nossa história, afirmar que o amor está próximo só porque nascemos no dia tal, sob a lua minguante. Todas nossas amigas já tinham nos dito que era momento de deixar o passado para atrás. Elas que viram nosso sofrimento, que quiseram bater no babaca que nos machucou, que escutaram nossas lamúrias e pitangas. Elas que ressaltaram nossas qualidades, ensinaram dicas de paquera, apontaram nossos defeitos e apresentaram amigos. Elas nos conhecem muito melhor do que os astrólogos. Mas sabe porque não damos ouvidos a elas e decidimos mudar de vida após ler o horóscopo? Porque nossas amigas não podem nos dar certeza de nada (além de que ele é um babaca, é claro!). No amor, nada é matemático, nem garantido. Por isso, nenhum ser humano normal é capaz de prever o futuro. E é exatamente nessa lacuna que entram os astros, as cartomantes, os pais de santo e afins.

Não sou contra de jeito nenhum a esse tipo de S.O.S (aliás, adoro!), só tenho medo de me ver dependente dessas previsões mirabolantes. Tem muita gente que não recorre aos astros por medo do que eles podem falar de ruim. Porque, no fundo, o que todas nós buscamos é a certeza de que tudo vai melhorar, pois só vamos atrás de qualquer tipo de previsão quando não temos mais certeza de nada!!! 

Às vezes precisamos de um empurrãozinho de fé, irracional mesmo, para seguir em frente. De vez em quando é bom acreditar nessas ilusões brancas para dar um up. Afinal, ninguém pode negar o efeito placebo de boas previsões (basta o horóscopo dizer que no dia daquela super festa você tem chance de conhecer o homem da sua vida para que você se produza toda e fique muito mais aberta a conhecer novas pessoas). Mas é preciso tomar cuidado, porque quando estamos no fundo do poço, qualquer vagalume parece holofote e nem sempre o caminho certo vai estar tão bem sinalizado! O que vale mesmo é o que somos, as nossas experiências e, principalmente as nossas vontades. Mas, também não precisamos ignorar o horóscopo quando este vem recheado de coisas boas. Afinal, nada melhor do que sair de casa com a "certeza" de que o dia será maravilhoso.

"Afinal, quem tem a última palavra 
sobre as nossas vidas?"


quarta-feira, 6 de março de 2013

Caraíva

Se eu pudesse escolher onde nascer, escolheria um lugar perto da água. Não é a toa que todas as cidades começaram na beira de um rio. Água traz paz, serenidade, certeza de que as coisas passam, por mais que pareçam iguais. Talvez seja por isso, que eu tenha me apaixonado por Caraíva. Mas não só pelo rio, não só pelo mar... um pouco pelo encontro desses gigantes, mas, principalmente, pela simplicidade e intensidade desse pequeno povoado no sul da Bahia.

Uma vila de pescadores, cercada de água. Ruas de areia com casinhas coloridas. Bares na beira do rio e pousadas de frente para o mar. Não há como ser indiferente a Caraíva. Um cenário encantador, que de nada valeria se não existissem as pessoas que ali moram ou decidiram viver. Em uma cidade mágica conheci pessoas que são parte da magia (para não dizer que são os responsáveis pela mágica). Pessoas que fazem a diferença, que cruzaram o rio em busca de algo mais.

Muitos chegaram para ficar um dia e acabaram passando o resto da vida ali. Há quem foi com prazo de permanência mais longo que sempre acaba se estendendo. E há aqueles que queriam ficar, mas tiveram medo. Sim, medo! Porque a paz pode sufocar e o auto-conhecimento pode enlouquecer!

Em um tempo de loucuras temporais e externas, as doideras naturais e intimistas assustam! Parece um sonho, mas abrir mão da correria, da overdose de informação e das inúmeras possibilidades de tudo não é tão simples quanto parece, especialmente quando a experiência torna-se abstinência! Ficar só é um deleite doloroso!

E é essa contradição de palavras e sentimentos que define Caraíva. Alta, baixa. Louca e calma. Paz e tormento. Afinal, quem vai de encontro a Caraíva está atrás do próprio encontro. Mas auto-conhecimento assim, são poucos que dão conta! E quem aceita o desafio descruza o rio diferente, melhor, ciente de seus defeitos e vontades, consciente. 

Eu me acorvadei, por enquanto...


"Morrer de amor
Toda vez
Outra vez..."