segunda-feira, 21 de maio de 2012

Retorno

Quem já fez intercâmbio sabe como é bom, mas também sabe o quanto é doloroso voltar. Pois o que você deixou para trás (e sentiu tanta saudade) não continua igual e você não é mais o mesmo! Acho que se adaptar a uma outra cultura e a uma nova vida, é mais fácil do que ter que se readaptar à sua própria e antiga realidade. Porque a sensação que se tem após o fim da viagem é a de não pertencimento. Você não faz parte da vida que deixou e, ao mesmo tempo, a vida nova que teve não te pertence mais. E é muito ruim não ter um lugar no mundo!


Sofri bastante quando voltei (hoje completa nove meses e dez dias que meu intercâmbio chegou ao fim). Sentia um vazio no peito, uma saudade irremediável, uma vontade louca de viver aquilo tudo de novo e para sempre. Ouvi um milhão de conselhos sobre como curar a "depressão pós-intercâmbio", mas a verdade é que eu não queria superar. Viver a falta me fazia lembrar o que tinha passado e, de uma forma bem sadomasoquista, me levava de volta ao ano mais feliz da minha vida. E esse sentimento me estagnou. Parei no tempo, na vontade, na busca... 


Decidi voltar, retornar para seguir em frente. E digo que foi a melhor decisão. Rever o Porto me permitiu me reencontrar. Foi mágico ver meu apartamento, beber no meu bar preferido, encontrar os amigos e perceber que, mesmo tendo sido um parênteses, a minha vida ali foi real! Real porque o sentimento continuou existindo mesmo depois de tanto tempo, mesmo estando tão longe. 


Os amigos que fiz e com quem compartilhei um pedaço tão importante da minha vida continuam ali e permanecem ocupando um lugar cativo. Afinal, só quem viveu junto um intercâmbio sabe a intensidade do sentimento criado, a importância da experiência vivida. É muito difícil tentar explicar o que aconteceu para quem não estava lá, envolvido naquela mistura de sentimentos, naquele eterno tríade saudade-felicidade-solidão. 


Mas voltar em outra situação nos faz perceber que o intercâmbio foi tão bom porque tinha data marcada, porque sabia-se que não era para sempre. Essa efemeridade da coisa nos permite nos permitir mais, afinal, vai acabar e não podemos levar arrependimentos, amarguras, tristezas. É por isso que fazemos coisas inusitadas, que perdoamos mais facilmente, que usamos roupas "descoladas", que amamos muito, que vivemos.


Uma vez o professor de um grande amigo o aconselhou ao voltar para o Brasil com o mesmo coração aberto com que foi para Portugal. Acho este o conselho mais sábio e o pensamento mais verdadeiro. Pois voltei para aquele lugar em que fui mais feliz e percebi que tudo que eu vivi foi graças a mim, ao meu modo de ver a vida, à minha decisão de fazer aquela experiência ser fantástica. O meu intercâmbio sempre esteve dentro de mim. Sendo assim, posso ser feliz em qualquer lugar! Afinal, estamos todos vivendo em um grande intercâmbio, com tempo determinado, com muitas possibilidades e com uma urgência de ser vivido.

Albergue Espanhol - Para relembrar o meu Erasmus!




Nenhum comentário:

Postar um comentário